terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Amigos dos judeus X Anti-semitas


Amigos dos judeus X Anti-semitas
Por Maorel Melo
    
     Eu estava outro dia participando de um momento social entre amigos gentios. Em um espaço confortável foram dispostas várias mesas encostadas umas as outras e as rodearam de cadeiras. Tratava-se de um café entre amigos. Não demorou muito e a conversa rolava solta – tudo com muita decência, claro - inevitavelmente a conversa é canalizada por um dos presentes em direção a Bíblia e a Cultura Judaica, a isso eu presenciei uma “explosão” de sentimentos mistos que muito me surpreendeu, pois, estávamos entre amigos. Lógico, tudo ocorreu com o máximo de discrição, porém, foi surpreendente para mim, a final de contas, eu estava entre amigos!
      Pois bem, pensando neste episódio em particular de minhas interações sociais com os não judeus, inventei de navegar de forma aleatória pela NET e deparei com três matérias que me chamaram a atenção em especial e gostaria de partilhar com vocês.
     A primeira matéria tem haver com protestos anti-semitas feitos por não judeus em nosso favor. Lógico; achei isso o máximo!
     A segunda; é uma dica oferecida por um judeu carioca de como devemos melhorar a imagem de nossa comunidade usando para tanto os meios de comunicação que nos cercam, assim, não somente faremos uma diferença positiva na sociedade da qual participamos, como também diminuiremos significativamente a força dos anti-semitas que infelizmente nos cercam.
     A terceira, no entanto, é a melhor delas; pois, nela conheceremos um dos maiores amigos dos judeus de todos os tempos aqui no Brasil.
     Tenham uma boa leitura!


Por: Nathan Lopes Cardozo
Leia a seguir o que pensam sobre os judeus alguns dos mais conhecidos autores não-judeus, em todo o mundo e em diversas épocas. São pessoas que admiram o povo judeu e que se referem à poluição do anti-semitismo em todo o mundo, que parece estar retornando com ímpetos nunca vistos anteriormente.
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" Algumas pessoas gostam dos judeus, e alguns não. Mas nenhum ser pensante pode negar o fato de que eles são, antes de tudo, o mais formidável e o mais extraordinário povo que apareceu no mundo".
Winston Churchill 1
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" O judeu é aquele ser sagrado que baixou do céu o fogo eterno, e tem iluminado com ele o mundo inteiro. Ele é a origem religiosa, manancial, e fonte sobre a qual todo o resto dos povos extraiu suas crenças e suas religiões".
Leon Tolstoy 2
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" Foi em vão que os mantivemos fechados durante vários séculos atrás das paredes do Gueto. Não tão cedo foram destrancados os portões de sua prisão, mas eles facilmente nos alcançaram, até mesmo nesses caminhos que nós abrimos sem a ajuda deles".
A. A. Leroy Beaulieu 3
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" O judeu nos deu o Exterior e o Interior — nossa perspectiva e nossa vida interna. Dificilmente podemos nos levantar pela manhã ou cruzar uma rua sem ser judeus. Nós sonhamos sonhos judeus e almejamos esperanças judaicas. A maioria de nossas melhores palavras, na realidade — novo, surpresa, aventura, sem igual, indivíduo, pessoa, vocação, tempo, história, futuro, liberdade, progresso, espírito, esperança de fé, justiça — são presentes dos judeus”.
Thomas Cahill 4
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" Um dos presentes da cultura judaica para o cristianismo é que tem ensinado os cristãos a pensar como judeus, e qualquer homem moderno que não tenha aprendido a pensar como se fosse judeu não pode dizer que tenha aprendido a pensar sobre tudo."
William Rees-Mogg 5
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"É certo que em certas partes do mundo podemos ver um povo singular, diferenciado dos outros povos do mundo e isto é chamado de povo judeu. Este povo não é somente de notável antiguidade, mas também tem subsistido extraordinariamente por um longo tempo. Porquanto os povos da Grécia e Itália, de Esparta, Atenas e Roma e outros que vieram posteriormente tenham perecido há muito tempo, eles ainda existem, apesar dos esforços de tantos reis poderosos que têm tentado centenas de vezes apagá-los da memória, como testemunham seus historiadores, e como pode facilmente ser julgado pela ordem natural das coisas sobre tal longo período de anos. Eles porém, sempre se preservaram e sua preservação estava prevista. Meu encontro com este povo me surpreende”.
Blaise Pascal 6
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" A visão judaica tornou-se o protótipo de muitos dos grandes desígnios semelhantes para a humanidade, ambos feito divino e humano. Os judeus, então, permanecem no centro da
eterna tentativa de dar à vida humana a dignidade de um propósito”.
Paul Johnson 7
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" Enquanto o mundo perdurar, todo aquele que quiser progredir dentro da retidão virá para Israel, para inspiração, tal qual o povo que teve o senso retidão mais ardente e mais forte”.
Matthew Arnold 8
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Realmente é difícil a todas as outras nações do mundo viverem diante da presença dos judeus. É irritante e muito incômodo. Os judeus preocupam o mundo como eles fizeram coisas que estão além do imaginável. Eles se tornaram os estranhos morais desde o dia em que seu antepassado, Abraão, apresentou ao mundo os altos padrões éticos e o temor dos Céus. Eles trouxeram ao mundo os Dez mandamentos, os quais muitas nações preferem desafiar. Eles violaram as regras da história permanecendo vivos, totalmente contra as probabilidades e o bom senso da evidência histórica.
Eles sobreviveram a todos os seus antigos inimigos, incluindo vastos impérios tais como os romanos e os gregos. Eles irritaram o mundo com o retorno à sua terra natal depois de 2000 anos de exílio e após o assassinato de seis milhões de seus irmãos e irmãs. Eles exasperaram o gênero humano por construir, numa piscada de olhos, um Estado democrático que outros não foram capazes de criar durante séculos. Eles construíram monumentos vivos como o dever para com o sagrado e o privilégio de servir como amigo dos homens. Suas mãos estiveram em cada empreendimento do progresso humano, seja na ciência, medicina, psicologia ou qualquer outra disciplina, mesmo que totalmente fora de proporção para o número atual deles. Eles deram ao mundo a Bíblia e até mesmo seu “salvador”.
Os judeus ensinaram ao mundo não aceitar o mundo como ele é, mas transformá-lo, ainda que só algumas nações procuraram escutar. Sobretudo, os judeus introduziram ao mundo o D-us único, ainda que só uma minoria procurou extrair disso as conseqüências morais. Portanto, as nações do mundo compreendem que elas teriam estado perdidas sem os judeus. E enquanto o subconsciente delas tenta lembrá-las de como muito da civilização ocidental foi moldada a partir dos termos e conceitos articulados pelos judeus, fazem qualquer coisa para suprimir isto. Elas negam que os judeus os recordem de um propósito mais elevado de vida e a necessidade de ser honrado, e fazem qualquer coisa para fugir de suas conseqüências. É simplesmente demais lidar com eles, e também embaraçoso admitir, e acima de tudo muito difícil viver com isso.
Assim, as nações do mundo decidiram uma vez mais sair de seu caminho para algo com que pudesse golpear os judeus. A meta: provar que os judeus são como imorais e culpados do massacre e genocídio como alguns deles próprios o são. Tudo isto com o objetivo de esconder e justificar seu próprio fracasso em protestar até mesmo quando seis milhões de judeus foram levados para os matadouros de Auschwitz e Dachau; para limpar sua consciência moral, da qual os judeus as fazem lembrar. E elas encontraram algo com que agredir. Nada poderia satisfazer mais a elas que encontrar os judeus numa luta com outro povo (que estão completamente aterrorizado pelos seus próprios líderes) contra quem os judeus, contra os seus melhores princípios, têm que se defender pela sua sobrevivência. Com grande complacência, permite o mundo que se reescreva a história de forma que se alimente o ódio de outro povo contra os judeus. Isto apesar do fato de que as nações entendem muito bem que a paz entre as partes já poderia ter vindo há muito tempo atrás, se aos judeus tivesse sido dada uma chance justa. Ao invés disso, elas saltaram alegremente no vagão do ódio só para justificar seu ciúme dos judeus e sua incompetência para lidar com suas próprias questões morais. Quando os judeus olham para esse jogo estranho que ocorre em Haia (o “julgamento do muro”), eles só podem sorrir, como se este jogo artificial provasse paradoxalmente ao mundo como ele
admite a singularidade dos judeus. Está em sua necessidade derrubar os judeus sobre os quais eles se elevaram. "O estudo de história da Europa durante os últimos séculos nos ensina uma lição constante: Que aquelas nações que receberam e de qualquer forma razoável e misericordiosamente trataram os judeus prosperaram; e que as nações que os têm torturado e oprimido escreveram sua própria maldição".
Olive Schreiner 9
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" Se houver alguma honra em todo o mundo da qual eu gostaria de ter, seria ser um cidadão judeu honorário."
A.L. Rowse 10
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Notas:
1. Citado por Geoffry Wheatcroft em "The Controversy of Sion", Sinclair-Stevensohn, Londres, 1996, X1.
2. Leon Tolstoy, citado pelo rabino-chefe J. H. Hertz em "O livro judaico do pensamento", Oxford University Press, 1966, pág.135.
3. Anatole Leroy Beaulieu, historiador francês. "Israel entre as nações", 1893,pág.162. Ibid, pág.174.
4. Thomas Cahill, " The Gifts of the Jews” (“Os Presentes dos judeus", Doubleday, Nova Iorque, 1998, pág., 240-41.
5. William Rees Mogg, "The Times", citado pelo rabino-chefe Jonathan Sacks, "Radical then, radical now" ("Radicais então, radicais agora"), Harpercollins, Londres, 2000, pág 4.
6. Pascal, "Pensées" (“Pensamentos”), tradução para o inglês por A.J. Krailsheimer, Penquin, Harmondsworth, 1968, pág. 171, 176-77.
7. Paul Johnson, "A history of the Jews" ("Uma história dos judeus"), Weindenfeld & Nicolsohn, Londres, 1987, pág. 2.
8. Matthew Arnold, "Literature and Dogma", Smith, Elder, Londres, 1876, pág. 58,
9. Olive Schreiner, novelista sul-africano, citado pelo rabino-chefe J. H. Hertz, pág.177,180, Ibid, pág. 180.
10. A. L. Rowse, "Historians I have known" (“Historiadores que eu conheci"), Duckworth, Londres, 1995.
* Nathan Lopes Cardozo é rabino, conferencista reconhecido mundialmente, e embaixador do judaísmo, do povo judeu,do Estado de Israel e da herança sefaradita.




  Por Carlos Brickman
A POSTURA DESTRA

      Dizem que, quando Joseph Mengele chegou ao Inferno, foi imediatamente procurar seu chefe. Hitler estava curiosíssimo sobre os acontecimentos na Terra. E Mengele foi direto: Chefe, o mundo está virado. Os alemães estão ganhando dinheiro e os judeus estão fazendo guerra.

     Nós, judeus, já fomos atacados pela incapacidade de resistir aos nossos inimigos. Éramos covardes, gente sem brio, servis e submissos. Agora somos atacados pela capacidade de resistir aos nossos inimigos. Somos violentos, prepotentes, sanguinários. Na verdade, para o anti-semita tanto faz o judeu ser indefeso ou guerreiro: ele não é criticado pelo adjetivo, mas pelo substantivo. É judeu, e pronto.
     Não há como lidar intelectualmente com o anti-semita: milhares de anos de doutrinação geraram este tipo de gente e não é com argumentos, com debates, com provas que iremos convencê-los. Estes, precisamos manter à distância; a estes, temos de manter sob vigilância.
      Mas há anti-semitas que não sabem que são anti-semitas, ou que sinceramente se consideram amigos dos judeus mas se comportam como anti-semitas. Com estes, é possível dialogar. Vou tratar de um só aspecto deste diálogo, que é a área na qual me sinto qualificado: o da comunicação.

Vejo dois tipos básicos de comunicadores que agem contra os judeus sem saber o que fazem:
     Primeiro, os ideológicos, para quem Israel, como aliado dos EUA, faz parte da grande conspiração mundial liderada pelo imperialismo ianque. Eles se consideram anti-sionistas mas não anti-semitas (o tipo que tem grandes amigos judeus e respeita profundamente Einstein e Mendelsohn, mas não Sharon ou qualquer outro primeiro-ministro de Israel);

     Segundo, os que, por falta de informação, espalham notícias sem base, ficam indignados com os judeus porque Israel utiliza sua supremacia militar na luta contra o terrorismo e consideram que os palestinos são as mais recentes vítimas do imperialismo.
     Em ambos os casos, a comunidade judaica enfrenta, no que se refere aos meios de comunicação, uma série de problemas que precisam ser resolvidos diretamente, tanto no longo prazo como no dia-a-dia:
     1. Desconhecimento dos fatos. Para boa parte dos jornalistas, os judeus e Israel são um mistério; e, enquanto a versão correta das notícias se limita aos jornais da comunidade, versões incorretas se multiplicam e tendem, como previa Goebbels, a transformar-se em verdade (recentemente, por exemplo, a Globonews informou que soldados israelenses foram os responsáveis pelo massacre dos campos de refugiados de Sabra e Chatila; e um jornalista que teria tudo para estar do nosso lado, o respeitado Célio Franco, do ABC, responsabilizou Sharon pelo massacre);
     2. Viés ideológico. De acordo com a Fenaj, Federação Nacional dos Jornalistas, 70% dos profissionais brasileiros votam no PT. Isso significa que, sendo os EUA aliados de Israel, as posições israelenses são automaticamente pró-americanas, contrárias aos interesses populares e tendentes a beneficiar o imperialismo.
     3. Viés social (derivado do item anterior). Os judeus são ricos, são um camada privilegiada da população, ajudam-se uns aos outros, mas sua visão é de casta, e de uma casta de elite. Se um goy se aproxima dos judeus com fins matrimoniais é repelido, porque judeu não aceita na família quem não seja judeu.
     4. Resquícios anti-semitas. Dificilmente vai-se encontrar um brasileiro que seja efetivamente anti-semita; mas é fácil encontrar aqueles que consideram os judeus usurários, avarentos, capazes de tudo por um bom negócio. Há uma certa aceitação de práticas discriminatórias contra os judeus. Não faz muito tempo, num dos últimos governos militares, de Geisel ou Figueiredo, o chanceler iraquiano Tareq Aziz se recusou a participar de uma solenidade junto com o prefeito do Rio, Israel Klabin, e disse claramente o motivo da recusa: não participaria de cerimônias ao lado de um judeu. Não houve protestos da imprensa contra a agressiva atitude do diplomata estrangeiro. O ministro da Previdência de um dos governos militares, Jair Soares, disse com todas as letras que Albert Sabin estava a serviço do sionismo internacional, por criticar um plano de vacinação elaborado pelo Governo brasileiro.
     5. A curiosa visão de que Israel, com menos habitantes do que o Rio de Janeiro e território menor do que o de Sergipe, é o Golias; e os árabes, com território e população maiores que os do Brasil, são David. Os palestinos são vítimas, os israelenses são conquistadores; são balas, tanques e canhões de um lado contra pedras do outro; são soldados israelenses contra bebês palestinos. Os homens-bomba são apenas michignes, não expressam uma política palestina de incentivo ao terror; e, veja só, são suicidas, em vez de homicidas.

     Há mais, evidentemente, e não é preciso listar esses problemas que qualquer membro da comunidade conhece a fundo. Mas agora vem a boa notícia: existe, sim, dentro das técnicas de comunicação e de gerenciamento de crise, uma maneira correta, eficiente e ética de enfrentá-los. É simples: contra a escuridão, a luz. Contra as mentiras, a verdade.

     Há pouco falei em gerenciamento de crise. É uma técnica relativamente moderna, que surgiu para defender os alvos da artilharia da imprensa. É eficiente; é uma das áreas em que meu escritório de comunicação se especializou e em que tem realizado numerosos trabalhos.

     Com certa frequência, acontece com uma empresa, ou com um homem público, ser atingido por uma série de acusações. Algumas são corretas; outras são falsas; uma boa parte, eu diria que a maior parte, traz uma verdade incompleta coberta por uma blindagem de mentiras, ou de má interpretação dos fatos. É mais ou menos o que acontece com os judeus: de repente, os alvos dos meios de comunicação somos nós. E temos de defender-nos, na área de comunicação, usando as técnicas da comunicação.

     Já existem, especialmente nos EUA, ótimos especialistas em gerenciamento de crise trabalhando em benefício da comunidade. Vou citar apenas um, que me impressiona pela qualidade do trabalho: o Honest Reporting, que mapeia a grande imprensa internacional e insiste com os editores em corrigir as notícias sempre que há necessidade. O Honest Reporting desenvolveu maneiras de expressar-se que, de tão boas, adotei como normas em meu escritório.
     O Honest Reporting as chama de Quatro Regras Cardeais do ativismo na comunicação: concisão (foco no erro, nos números, nos fatos, não em generalidades vagas que possam ser desmentidas); precisão (as reclamações devem ser factuais, nossas provas devem ser irrespondíveis, e sempre que possível devemos citar a fonte da informação correta); educação (sem insultos, para não colocar o meio de comunicação na defensiva); e persistência. Dá trabalho, amigos. Muito trabalho. Mas funciona.

     Como se faz este trabalho, tanto para empresas como para a comunidade ? Como isso funciona, em termos práticos?
É essencial:
     1. Acompanhar minuciosamente o noticiário, os programas de rádio e TV, os jornais, a Internet, e responder imediatamente, dentro dos princípios da concisão, precisão, educação e persistência, a cada inverdade, a cada agressão, a cada resquício de anti-semitismo. Contra os mitos do obscurantismo, nada melhor do que a exposição à luz do Sol.
     2. Encaminhar aos veículos de comunicação, o mais rapidamente possível, os pontos de vista da comunidade em relação aos fatos que sejam de seu interesse.
     3. Ter disponibilidade permanente para atender aos veículos de comunicação, seja divulgando informações, seja concedendo entrevistas ou declarações, seja disputando espaço para divulgação e resposta.
     4. Dispor de prestígio jornalístico junto aos meios de divulgação, de maneira a facilitar a divulgação do material necessário a repor a verdade.

     5. Estar apto a fornecer artigos para as principais publicações. Os artigos têm baixo índice de leitura, mas dão prestígio; e os poucos que os lêem são formadores de opinião.
     6. Ser hábil o suficiente para evitar choques frontais com os veículos de comunicação (e, se for possível, até mesmo com os jornalistas, mesmo os mais agressivos). Caso haja possibilidade, devemos matar a fera; mas devemos evitar feri-la. É imprescindível manter boas relações com veículos e profissionais que continuarão vivendo a nosso lado e escrevendo a nosso respeito.

     7. Centralizar a resposta da comunidade. Claro que não podemos impedir que um judeu indignado diga que a Rede Globo está fazendo propaganda anti-semita; mas deve ficar claro quando a comunidade está falando (sempre dentro das normas do Honest Reporting). Não pode ser a mesma coisa um posicionamento da comunidade e um de um cidadão indignado – este, muitas vezes sem razão.
     Tudo isso, enfim, é indicativo; não adianta conhecer os princípios sem ampla dose de trabalho braçal e muita infra-estrutura para suportar a carga.

     A pior parte deste trabalho é a repetição. Corrige-se o erro hoje, amanhã, sempre. Se alguém deixa de cometer o erro, sempre haverá outro que o cometa. Erros já cometidos são quase eternos, já que ficam nos arquivos, prontos para ressuscitar (e ser novamente desmentidos). Esta repetição não deve, apesar de tudo, matar a urbanidade: nós repetimos, mas o receptor está ouvindo nossa versão pela primeira vez.
     Resolve ? Resolve, do ponto de vista da comunicação. É uma batalha sem fim, mas gera-se um equilíbrio que hoje não existe na imprensa.
     Muitas outras coisas podem ser feitas, sempre do ponto de vista da comunicação. Ações tendentes, por exemplo, a expor a vida judaica à população em geral. Vou apenas exemplificar (não tenho condições de saber se aquilo de que estou falando é ou não viável). Digamos, convidar o público para nossa festa de Purim, da mesma maneira que os católicos italianos que vivem no Brasil comemoram em público a festa de Nossa Senhora Achiropita. Ou um grande Seder comunitário de Pessach, com todo o ritual, aberto a grupos específicos de goyim – digamos, os moradores da favela atendida pelo Hospital Albert Einstein. Temos na comunidade gente altamente capacitada para criar eventos de relações públicas que podem ter bons efeitos na construção e reforço da imagem da comunidade judaica em São Paulo.
     Mas não esqueçamos: todo este trabalho de imprensa, de gerenciamento de crise, de relações públicas, tudo isso resolve uma parte do problema, aquela que acontece nos meios de comunicação. Mas nada resolve do ponto de vista geral, daqueles que são conscientemente anti-semitas, e que responsabilizam Marx, Freud e Marcuse, por judeus, por todos os males do mundo. Isso exige outro tipo de ação. Mas não desanime: minha avó Maria, que veio da Ucrânia para Franca no inicio do século passado, sempre me ensinou que é duro ser judeu. E nós somos judeus, continuamos judeus, enquanto os vários Reichs que tentaram nos esmagar desapareceram da face da Terra.
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Carlos Brickman é jornalista:
Palestra sobre “Estratégias na luta contra o anti-semitismo no Brasil” proferida para a reunião da B’nai Brith que teve como tema “Anti-semitismo e insegurança hoje”.







UM AMIGO CHAMADO PEDRO
Por Rachel Stoianoff

      Diz o velho ditado que todos os caminhos levam a Jerusalém. No meu caso alguns caminhos levaram-me a Petrópolis. Lendo um artigo sobre a cultura judaica de D. Pedro II, tive conhecimento também da existência do Rabino Mossé de Avignon na Provença Francesa e fiquei encantada com a grande amizade que mantiveram até o fim de suas vidas.
     Decidi ir a Petrópolis visitar o Museu Imperial. Muito interessada no que vi, voltei lá três vezes. Apreciei o manto, o cedro e a coroa imperial que pertenceram ao Imperador. Resolvi conhecer melhor a cultura judaica de Pedro e o respeito e a admiração que ele tinha pelos judeus. Anotações daqui e dali resultaram neste trabalho, pois achei que devia contar o que foi visto e pesquisado. No final concluí que em outro tempo mais antigo, em outra dimensão no espaço de nossas vidas eu tive também um Amigo Chamado Pedro.
     No arquivo em Petrópolis, achamos mais uma carta que o rabino Mossé dirigiu ao imperador em 9 de agosto de 1889, enviada juntamente com a biografia “Dom Pedro II, Empereur du Brésil”, cuja autoria e até existência do autor tinham sido postas em dúvida por d’Escragnolle. A missiva, em estilo muito floreado, fecha com o seguinte parágrafo:
“Uma das mais belas retribuições de minha vida será apresentar, como historiador francês, o maior dos modernos imperadores, D. Pedro II. Com os sentimentos de minha devota admiração, imploro Sua Majestade aceitar esta nova oferenda e as mais profundas homenagens de seu humilde e respeitoso servo, discípulo de Moisés e dos profetas, que invoca para Sua Majestade, Sua Augusta Família e seu Povo, a graça divina do Supremo Criador, para que Ele o proteja contra os ataques dos insetos e o coloque à sombra das Suas Asas (em hebraico:) que os anjos o acompanhem em todas Suas andanças!”
- Benjamin Mossé   Grão-Rabino Oficial da Instituição Pública (WOLF, Egon e Faria, 1983).


     A História do Povo Judeu, tão ligada à religião e as tradições seculares, é uma história muito especial. A história dos judeus tão diversa da de outros povos é, no entanto a história de toda humanidade.
     As narrativas bíblicas esclarecem os caminhos da humanidade desde a época nômade, desde as tribos, até a formação de nações construídas com leis próprias. As histórias dos profetas, reis, e patriarcas, são um patrimônio de conduta para todas as crenças e todos os homens. A história judaica mesclou-se à história de inúmeros povos e países onde os judeus viveram, incluindo o princípio da História do Brasil desde o descobrimento, Cabral, Fernando Noronha, Pedro da Gama, tantos que para cá vieram, aqui estiveram em paz enquanto durou a repressão à inquisição pelo Marquês de Pombal. Com a chegada da corte portuguesa em 1808, os portos foram abertos à imigração e os judeus que chegaram a partir daí não tinham a ver com os anteriores cristãos novos. 

     O Brasil Império florescia sob o reinado do jovem Imperador Pedro II. E aqui propriamente começa a nossa história: o imperador amigo e admirador do povo da história e da língua hebraica deixou uma grande profusão de documentos sobre o assunto, e registrou de próprio punho em seus diários, o bom relacionamento e as amizades que tinha e cultivava com os judeus do Brasil e de outras terras.
     No museu de Petrópolis, encontra-se todo um acervo desta face pouco conhecida do Imperador D. Pedro, que foi coroado com 15 anos, falava francês e inglês, era culto e foi sempre dedicado ao estudo durante a vida apesar dos seus deveres para com o Brasil. Em 1830 seus estudos incluíram latim, música, dança, caligrafia, geometria, matemática, geografia e, em 1839 ele dedicou-se ao alemão e italiano. Depois D. Pedro aprendeu com perfeição o grego, hebraico, sânscrito, árabe, provençal e a língua tupi.
     Em 1891, D. Pedro publicou um livro de versões de poesias judaicas declarando então, que se dedicara ao hebraico, para conhecer a história e literatura dos judeus e os livros dos profetas. Seu primeiro professor, foi o judeu sueco Aker Blom por volta de 1860 e depois os judeus Koch, Henning e Seybold.
     Em 1887, viajando à Europa, D. Pedro declara ser o hebraico sua língua preferida e, em seu diário, ele anota suas traduções do hebraico, assinala que ministrou aulas de hebraico, depois registra “Traduzi Neemias com facilidade, não tenho esquecido o hebraico”. 

     Até depois de abdicar, D. Pedro continuou estudando sempre a língua hebraica. Traduziu Camões para o hebraico, passou partes do Velho Testamento do hebraico para o latim, dentre elas o Cântico dos Cânticos, Isaías, Lamentações e Jó. D. Pedro foi o precursor dos estudos hebraicos no Brasil e por causa dele muitos estudiosos passaram a cultivar a língua hebraica. O Imperador deixou um trabalho de 19 páginas que está no Museu de Petrópolis com o significado de palavras hebraicas do livro dos Salmos e do Gênesis, sendo que ele as traduziu para o inglês e o grego, não para o português. Este documento contém o hebraico escrito de seu próprio punho. 


     D. Pedro tinha amigos judeus aos quais freqüentava e que também recebia no Paço Imperial. Quando o Imperador criou a Ordem da Rosa vários judeus a receberam no Brasil, como o Coronel Francisco Leon Cohn, Henry Nestor, Dreifus e outros israelitas residentes em outros países também foram honrados. Abraão Bernel, por exemplo, recebeu a ordem por serviços humanitários no Brasil. Firmas inglesas a receberam, todas elas relacionadas aos Rothschild. O coronel Francisco Leon Cohn chegou a Tenente Coronel da Guarda Nacional em 1876. Um judeu, Morris N. Kohn, americano, fez a planta para a instalação da luz elétrica no Palácio da Quinta da Boa Vista. Este judeu que veio residir no Brasil foi o inventor da cama patente. Quem lembra?
     Em 1869, chegou ao Rio o maestro e pianista judeu Gottischalk. e entre muitas apresentações houve uma solene dedicada ao Imperador, composta de 20 músicos sob a regência do maestro, e foi apresentada à Grande Marcha Solene, variações do Hino Nacional. A Lista de artistas israelitas que aqui vieram foi enorme e tiveram sempre o apoio de sua Majestade: Harold Hime, Paula Bucheim, Max Lichtenstein, Ida e Helena Goldsmith e muitos outros. 
   
     Quando a Independência do Brasil foi proclamada, a Constituição declarou  a religião romana como a religião do Império, mas permitia outras religiões. D. Pedro viajou muito e por onde passava visitava as sinagogas; assim foi nas duas sinagogas principais de Londres, sendo, que em uma delas o rabino Marks abriu a Torá a seu pedido, e no Sábado lá estava D. Pedro assistindo ao culto onde recebeu benções para si e toda a família Imperial. Em S. Francisco a Torá lhe foi apresentada e o Imperador a leu fluentemente, leu o livro de Moisés e traduziu o texto com desembaraço para surpresa dos presentes. E assim visitou as sinagogas das cidades onde esteve nos Estados Unidos. fez o mesmo na Europa.
     No seu diário ele registra a passagem pela sinagoga de Bruxelas, esteve também na sinagoga de Toledo fazendo anotações sobre a música e o canto assistindo aos shabat invariavelmente. O Imperador foi à Palestina. Esteve numa sinagoga Samaritana em Sebastia e ele anota que a Torá que lhe foi apresentada era de pele de gazela, muito antiga e tinha o Pentateuco escrito em letras fenícias ou cananéias usadas antes do exílio Babilônico.
      Em Damasco procurou os judeus e os visitou. Na Palestina esteve em Cafarnaum e anotou: “Estudei a Bíblia quanto pude”, e trouxe uma pedra das ruínas da Sinagoga. Foi nesta viagem, várias vezes à Jerusalém. E anotou: “Vou ao Monte das Oliveiras e vou ver os judeus orando junto à Muralha do Templo”.
     E voltando ao Brasil, D. Pedro sempre ligado aos seus amigos judeus, continuou mantendo vasta correspondência sobre o hebraico. Havia um especial – Ernest Renau, filósofo, professor de hebraico e sânscrito, era escritor, mas os livros por ele publicados sobre religião não interessaram a D. Pedro, visto que os pontos de vista de Renau não coincidiam com o sentido religioso do Imperador. D. Pedro era religioso, o  estudo do hebraico, o interesse pelas sinagogas e os judeus, estão alinhados com ele, que declarava: “Creio em Deus, sempre tive fé”.  


     O Brasil seguia seu caminho, e o Império negociava com o exterior, o Brasil tornava-se conhecido e o Imperador recebia publicações de várias partes do mundo. Assim foi-se formando a biblioteca Imperial. Dos Estados Unidos, chegou um livro em hebraico de autoria do rabino Halish e também um manuscrito de Jerusalém enviado por Salomon Henvitz. Muitas cartas em hebraico, poemas, um livro sobre Judah Helevy vieram ao Castelo D’EU quando o Imperador já estava no exílio.
     No exílio, D. Pedro dizia aos jornalistas que o abordavam: “não me chamem Vossa Majestade, mas Monsieur d’Alcantara”.
     As anotações de D. Pedro depois que perdeu o Império são diferentes. Ele foi para França depois que a esposa morreu, e continuou freqüentando os meios judaicos. As anotações em seu diário são variadas referentes aos seus contatos com os israelitas radicados em setores diversos: professores, médicos, escritores, rabinos etc.
     Seis semanas antes de sua morte, ele enviou carta ao professor Max Pettenkoper, agradecendo as poesias em hebraico. D. Pedro foi amigo do rabino Benjamin Mossé de Avinhão, que lhe sugeriu que traduzisse os poemas litúrgicos daquela região da provença, pois ele dominava os dois idiomas. Os poemas eram escritos de maneira especial, eram piuts, escritos uma linha em hebraico, outra em provencal. D. Pedro fez a tradução ao seu modo. O texto hebraico foi para o francês e o provençal para caracteres latinos e assim D. Pedro fez muitas traduções para o rabino de Avinhão, incluindo o aramaico.
     As publicações religiosas do rabino denominadas “ La Famille de Jacob” estão documentados os trabalhos de D. Pedro. A Biblioteca Nacional de Paris possui esses exemplares, as bibliotecas judaicas na França e em Israel não os têm, embora constem documentos franceses as traduções feitas pelo Imperador dos “Treze atributos de Deus” do rabino Salomon bem Isaac de Troyes, no Brasil não há nenhum documento a respeito. 

     D. Pedro recebeu em 15/09/1873 o grande Diploma de Honra por seus trabalhos por intermédio do rabino Mossé que, juntamente com o Barão do Rio Branco, escreveram uma biografia do Imperador.
     A morte de D. Pedro aos 68 anos foi um choque para o rabino de Avinhão e ele escreveu um necrológio no seu jornal “La Famille de Jacob”. D. Pedro II d’Alcantara, cuja biografia um modesto rabino teve a honra de escrever com a colaboração de um sábio brasileiro Barão de Rio Branco, foi uma das mais admiráveis figuras de nossa época moderna. Fundador e organizador do imenso Império brasileiro foi amigo das letras. Conhecedor a fundo do hebraico, era certamente mais fluente nesta língua que muitos filhos de Israel. Ele não somente amava nossa língua mas nos amava, elogiava as virtudes de nosso povo e indignava-se com o anti-semitismo.
     A última obra em que o monarca trabalhava era judaica, uma manifestação ressoante em favor do judaísmo que guardara para sempre sua memória.
     O povo judeu que encontrou tanto desamor através dos séculos também teve amigos sinceros, e entre eles em muito especial, Pedro João Leopoldo Salvador Babiano, Francisco Xavier de Paula Leopoldino Miguel, Gabriel Gonzaga de Alcantara Orleãns e Bragança, Imperador do Brasil.



Referências Bibliográficas:
Wolf, Egon e Frieda. D. Pedro II e os Judeus. Ed. B’nai B’rith. 1983.
Wolf, Egon e Frieda. O Imperador e o Rabino – Resenha Judaica. Arquivo do Museu Imperial de Petropólis.

Fontes bibliográficas:

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