quinta-feira, 16 de julho de 2015

Yetser Hará (A má influência)

Yetser Hará

O parashá Vayishlach narra a luta entre Yaakov (Jacó) e um anjo celestial, até que Yaakov faz uma pergunta incomum para o anjo: "Qual é seu nome?".
(Gênesis 32: 23-30)



Sforno, um grande estudioso que viveu na Itália no século XVI, explica que este anjo representa o Yetzer Hará. A má inclinação humana.
Yetzer Hará sempre desafia os homens em suas áreas fracas. Então ao perguntar seu nome, Yaakov estava na verdade perguntando:’’ Em que ponto fraco estás me desafiando?’’ Ele queria saber em que deveria aperfeiçoar-se.
E o anjo respondeu-lhe: " Não pergunte o meu nome"
Esta resposta nos dá uma ideia de como funciona o Yetzer Hará: Ele tenta nos esconder a verdade, não quer que conheçamos o ponto fraco onde nos quer atingir.
Mas podemos analisar a resposta do Yetzer Hará mais profundamente, Ele está dizendo: "Eu não tenho nome, não sou nada e nem ninguém" assim entendemos que a tendência humana para o comportamento maligno, é na verdade uma ilusão.

Isso nos ensina uma lição importante para as nossas vidas. Quando nos esforçamos para fazer as coisas certas, como não enganar ou levantar falso aos outros, e ouvir aquela voz que tenta dissuadir; nesse momento é quando nos lembramos que Yetzer Hará não tem nome, e é apenas uma ilusão que podemos vencer e ignorar.

Podemos ilustrar com uma história de Jafetz Jaim que em uma manhã de inverno, tentou levantar da cama e Yetzer Hará disse: "Fique na cama, você é um homem velho." A resposta de Jafetz Jaim foi saltar para fora da cama e dizer-lhe: "Isso pode ser verdade, mas você é ainda mais velho e está disposto!".

Por: Chassid Melo
Fonte: AishLatino.com

terça-feira, 7 de julho de 2015

A Lei sobre os Cabelos


A Lei sobre os Cabelos

“Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta?
Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido?”

(
1 Coríntios 11:13,14)

Como estudante da Torá, acabo por me deparar com muitas questões de cunho religioso, formuladas por pessoas de muitos credos. Últimamente tenho me deparado com muitos evangélicos e suas questões pormenorizadas sobre muitos assuntos que para o Judaísmo são irrelevantes, pois, muitos deles são resolvidos por Tradição, sem haver a necessidade de uma investigação meticulosa a fim de saber a idoneidade do formulador de tal “doutrina”, (como ocorre freqüêntemente no mundo evangélico), pois, os Patriarcas e os Juízes são os responsáveis de formular a maioria destas “leis doutrinais” seguidos pelos rabinos que iniciáram seu trabalho mais ou menos desde o Exílio da Babilônia.


Contudo, em um dia qualquer, um amigo que tem simpatizado com a forma da Torá de resolver questões, me perguntou sobre certas “afirmações problemáticas de Jesus no Novo Testamento” e, na ância de respondê-lo com propriedade, descorri sobre vários textos das Escrituras Sagradas, consegui respondê-lo satisfatóriamente, e entre uma citação bíblica e outra, acabei por me deparar com 1 Coríntios 11:13-14, e foi aí que me deparei com uma questão que me chamou a atenção particularmente; qual foi a fonte acessada por Paulo que o levou a entender que o padrão estipulado por ele era o que se poderia ser considerado na época como “Padrão Bíblico”?


Para nós, os judeus, todas as questões que regulam o dia-a-dia do ser humano em sua peregrinação sobre a terra estão regulamentadas na Torá, portanto, qualquer questão comportamental deve ser consultada nela. Porém, caso a resposta não esteja clara, devemos consultar a nossa Tradição, pois, para nós, os judeus, a Tradição Judaica tem peso de Palavra de Deus, como está Escrito:
“Quando alguma coisa te for difícil demais em juízo, entre sangue e sangue, entre demanda e demanda, entre ferida e ferida, em questões de litígios nas tuas portas, então te levantarás, e subirás ao lugar que escolher o Senhor teu Deus; e virás aos sacerdotes levitas, e ao juiz que houver naqueles dias, e inquirirás, e te anunciarão a sentença do juízo. E farás conforme ao mandado da palavra que te anunciarem no lugar que escolher o Senhor; e terás cuidado de fazer conforme a tudo o que te ensinarem.
Conforme ao mandado da lei que te ensinarem, e conforme ao juízo que te disserem, farás; da palavra que te anunciarem te não desviarás, nem para a direita nem para a esquerda. O homem, pois, que se houver soberbamente, não dando ouvidos ao sacerdote, que está ali para servir ao Senhor teu Deus, nem ao juiz, esse homem morrerá; e tirarás o mal de Israel; para que todo o povo o ouça, e tema, e nunca mais se ensoberbeça.”

(
Deuteronômio 17:8-13)




Tendo isso em mente, o fato de Paulo ser judeu me ajudou a encontrar um “norte” para essa questão, provavelmente Paulo acessou a Tradição...


Paulo era um Judeu Religioso


“Quanto a mim, sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da Lei de nossos Pais, zelador de Deus, como todos vós hoje sois.”
(
Atos 22:3)

Como judeu (segundo a sua própria declaração), Paulo teria percorrido intelectualmente o mesmo “caminho judaico de resolução de problemas doutrinais” que qualquer judeu estudioso percorreria. Tendo isso em mente, posso tomar como exemplo; a questão relativa ao véu, perceba que não há explicitamente um mandamento que exija o uso do véu em toda a Lei, e mesmo assim Paulo assevera que toda mulher piedosa deve usar veú (1 Coríntios 11:5), a fonte onde ele encontra tal observação que lhe confere peso de Lei, se encontra em um Midrash (em grego se chamaria parábola) – Parte da Tradição Judaica - sobre Eva à partir de Gênesis 3:16, que conta:
“E disse Deus: ... e como apagaste a luz do homem terás que acendê-la todo o dia sexto à tarde e porás o véu em sinal de submissão a ele.”


Fonte: R. Louis Ginzberg de 1873 a 1953


Jesus e a Tradição


Por outro lado, apesar de Paulo ter sido judeu, é fato o esforço que fez no decorrer de seu trabalho pela expansão da religião como ele concebeu pela anulação dos valores da Lei em prol da Graça e das “tradições dos homens” em prol das tradições apostólicas (1 Coríntios 11:2 / 2 Tessalonicenses 2:15), e portanto, outra pergunta surge aqui: “O que fez Paulo pensar que a Tradição Apostólica é digna de prestigio espiritual e a Tradição Judaica como um todo não? E é ainda mais curiosa essa distinção que Paulo faz entre Tradição e Tradição quando observamos a postura de Rabi Yeshua em relção à Tradição:
“Então chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? pois não lavam as mãos quando comem pão. Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós, também, o Mandamento de Deus pela vossa tradição? Porque Deus Ordenou, dizendo: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser ao pai ou à mãe, certamente morrerá.
Mas vós dizeis: Qualquer que disser ao pai ou à mãe: É oferta ao Senhor o que poderias aproveitar de mim; esse não precisa honrar nem a seu pai nem a sua mãe, e assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus. Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo:
Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.”

(
Mateus 15:1-9)
 Ora, se Rabi Yeshua claramente se posicionou “contra” a Tradição, porque Paulo tomaria uma postura contrária? Pois, como vimos, Paulo aconselhou que os fiéis não se desviassem da Tradição dos Apóstolos (2 Tessalonicenses 2:15).
No entanto, se o leitor da Bíblia lê-la com honestidade se admirará com a postura aparentemente contraditória de Rabi Yeshua quando outra declaração em relação a Tradição é observada e comparada com a declaração supracitada:
“Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na Cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem...”
(Mateus 23:1-3)
A Cadeira de Moisés mencionada no texto é para Rabi Yeshua um posto de autoridade político e religioso genuíno, reconhecido por Deus e reverenciado pelos crentes (doutra forma Rabi Yeshua não sujeitaria a população a uma falsa autoridade), a estranhesa de sua postura se evidencia no fato de que na passagem bíblica anterior Rabi Yeshua se posicionou claramente contra, enquanto agora ele se posiciona a favor da Tradição, pois, a Cadeira de Moisés não é uma instituição bíblica, a Cadeira de Moisés é uma instituição da Tradição.


A Torá e a Tradição
Se a postura conbtrária à Tradição por parte de Rabi Yeshua na primeira citação (Mateus15:1-9) é embaraçosa para Paulo e os demais que lhe deram ouvidos, a sua postura a favor na segunda citação (Mateus 23:1-3) não é apenas armoniosa com a opinião dos adéptos da Tradição quanto coaduna com a opinião da Torá em relação a Canonização da Tradição investindu-a com autoridade Divina, como Está Escrito:
“Quando alguma coisa te for difícil demais em juízo, ...então te levantarás, e subirás ao lugar que escolher o Senhor teu Deus; ...e ao juiz que houver naqueles dias, e inquirirás, e te anunciarão a sentença do juízo. ...e terás cuidado de fazer conforme a tudo o que te ensinarem. ...da palavra que te anunciarem te não desviarás, nem para a direita nem para a esquerda. O homem, pois, que se houver soberbamente, não dando ouvidos ao ... juiz, esse homem morrerá; e tirarás o mal de Israel; para que todo o povo o ouça, e tema, e nunca mais se ensoberbeça.”
(
Deuteronômio 17:8-13)
Ora, se a própria Torá confere a Tradição Judaica o peso de Lei, nada mais sensato do que levar isto adiante e assim concordam Paulo (2 Tessalonicenses 2:15) e Rabi Yeshua na segunda citação bíblica (Mateus 23:1-3) e mais, ele também confere a livros bíblicos o peso de Lei quando tais livros na verdade é parte do compêndio que para o Judaísmo está elencado na Tradição Antiga  como é o caso do Livros dos Salmos, como está escrito:
“Eu e o Pai somos Um. Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar. Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais? Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo. Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa Lei: Eu disse: Sois deuses? Pois, se a Lei chamou deuses àqueles a quem a Palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode ser anulada, quele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus? Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis. Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras; para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim e eu Nele.”
(
João 10:30-38)
“Deus está na Congregação dos Poderosos; julga no meio dos deuses. Até quando julgareis injustamente, e aceitareis as pessoas dos ímpios? (Selá.) Fazei justiça ao pobre e ao órfão; justificai o aflito e o necessitado. Livrai o pobre e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios. Eles não conhecem, nem entendem; andam em trevas; todos os fundamentos da terra vacilam. Eu disse: Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo. Todavia morrereis como homens, e caireis como qualquer dos príncipes. Levanta-te, ó Deus, julga a terra, pois Tu possuis todas as nações.”
(
Salmos 82:1-8)
E, por outro lado; Rabi Yeshua parece totalmente contra tal posicionamento de acordo com a primeira citação bíblica (Mateus 15:1-9), e Paulo reclama ter o “monopólio” da Verdadeira Tradição Bíblica tomando uma postura intermediária entre Rabi Yeshua e os adéptos da Tradição. A aparente contradição é resolvida citando um dado da própria Tradição; para a Tradição Judaica, a Pura Verdade se encontra na Revelação do Sinai, com o passar do tempo, a clareza dessa Verdade vai se tornando cada vez mais “turva” por causa da malícia dos homens, assim, quanto mais próximo da Revelção do Sinai se encontrar históricamente o juíz que decretou determinada lei da Tradição mais autoridade às palvras deste juíz é conferida em detrimento da autoridade do juíz que vem depois.
Dessa forma, é comum observar os rabinos discutindo uns com os outros questões da Halakhá (leis da Tradição) baseados nas citações de rabinos de gerações anteriores enquanto se desmerecem mutuamente em relação ás suas próprias sentenças formuladas em sua geração. Isso porque para os judeus, quanto mais próximo da Revelação do Sinai historicamente se encontre determinado rabino, mais autoridade lhe é conferida pela geração posterior, conseqüêntemente, em uma mesma geração, de um rabino para outro as sentenças formuladas constituem autoridade de lei para uma determinada congregação, mas não é autoridade de lei de um rabino para o outro, por outro lado, a geração seguinte estudará com reverência os tratados tanto de um quanto do outro. Éste é o fundamento do provérbio; “onde há dois judeus há três opiniões”, e por outro lado, em relação à reverência da geração seguinte em relação ao material produzido pela geração anterior, é citado pela Tradição como segue:
“Moisés recebeu a Torá no Sinai e entregou-a a Josué; Josué aos anciãos; os anciãos aos profetas; e os profetas a entregaram para os homens da Grande Assembléia...”
(Pirkei Avot 1:1)
 “Você sabia que todas as informações que estamos aprendendo hoje podem ser rastreadas diretamente para Moshe no Monte Sinai? Esta cadeia explica como a Torá foi passada de rabino para estudante, a partir de Moshe até hoje. Ela abrange 3.327 anos e não uma única lacuna! Cada ano é contabilizado. Isso é muito surpreendente!”
(Rabino Berel Wein (Jerusalém, 1934 – Presente) Pirkei Avot: Ensinamentos para os Nossos Tempos (Avot 1: 1)

 “O Rabino Yehoshua Ben Levi afirmou: Qualquer um que ensina seu neto sobre a Torá, é o mesmo que receber a Torá no Monte Sinai.”
(Talmud Bavli, Kiddushin 30ª)


“A Torá é superior ao Sacerdócio e à Realeza, pois a Realeza requer trinta qualidades, o Sacerdócio vinte e quatro, mas a Torá requer quarenta e oito qualidades. E elas são: estudo, atenção pelo ouvido, repetição em voz alta, inteligência do coração, respeito, temor, humildade, alegria, pureza, convívio com Sábios, aproximação dos companheiros, debate com os discípulos, bom senso, conhecimento da Escritura, conhecimento da Tradição... paciência, bom coração, confiança nos Sábios, resignação no sofrimento, conhecer o seu lugar, contentar-se com a sua porção, medir suas palavras, não exigir créditos para si, ser amado, amar o Todo-Presente, amar o seu próximo, amar a retidão, prezar as críticas, afastar-se das honrarias, não inflar o coração por causa do desconhecimento, não se deleitar em dar ordens, ajudar o próximo a carregar o seu jugo: julgá-lo com indulgência, pô-lo no caminho da paz; estudar com método, perguntar conforme o assunto e responder conforme a regra, ouvir e aumentar o conhecimento, aprender para ensinar, aprender para praticar, estimular a sabedoria do mestre, raciocinar sobre o que ouvir e dizer coisas em nome de quem as disse. Sabe-se que todo aquele que diz uma coisa, citando o nome de quem a disse, traz a redenção ao mundo, pois foi dito: “E disse Ester ao rei em nome de Mordekhai”
(Pirkei Avot Capítulo 6 / Ester 2:22)


Só assim é possível resolver esta aparente contradição, pois, se as leis da Tradição formulada por rabinos, só serão reverenciadas pelos rabinos da geração posterior e por sua vez desdenharam as leis formuladas em sua própria geração, quando observamos Rabi Yeshua desmerecendo a Tradição, não se deve entender que ele estaria desmerecendo as Palavras dos Pais, antes ele desmerece as palavras dos rabinos de sua geração naquilo em que ele entende que está ferindo os princípios fundamentais da própria Torá, e a mesma postura foi tomada pelos rabinos de sua geração que combateram com ele em relação a questões de Tradição dos Antigos.


Em suma; Rabi Yeshua e Paulo desmerecem a Tradição formulada em sua geração, enquanto tomam como válida a Tradição formulada por gerações anteriores, pois, Rabi Yeshua está sujeito a Torá (Mateus 5:17 / Lucas 24:44) e a própria Torá confere autoridade a Tradição (Deuteronômio 17:8-13), como Rabino, Rabi Yeshua formulou as suas próprias leis da Tradição que foram reverenciadas por uns e desmerecidas por outros e isso é um fenômeno corrente no Mundo Judaico desde o seu surgimento até os dias de hoje.  

De volta ao ponto inicial
“Sede meus imitadores, como também eu de Cristo. E louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes os preceitos como vo-los entreguei. Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo. Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu. O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos. Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor.
Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus. Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta? Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido? Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu. Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus. Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior.”

(1 Coríntios 11:1-17)




Ao se reportar aos coríntios, Paulo não faz questão de mencionar explicitamente a Tradição Judaica, fonte de suas afirmações - como por exemplo em relação ao véu (Midrash sobre Bereshit – Gênesis 3:16) – porque eles, os coríntios, por serem gregos não dariam valor algum a tais informações, Paulo por outro lado, por ter sido educado na Religião Judaica por ninguém menos que Rabi Gamaliel I (Atos 22:3), príncipe do Sinédrio (Talmud Babilônico-Tratado Shabat 15ª), conhecia bem o valor e a força que tais fontes representavam para toda a Judéia.  
Tendo ele acesso e domínio das fontes, se apoia e propaga delas o que lhe convém de acordo com a necessidade de fundamentar esta ou aquela doutrina.
Assim que; se para a instituição do véu Paulo se apoia no Midrash Bereshit 3:16, então, para afirmar de forma asseverada sobre o corte de cabelos masculino em distinção ao corte de cabelos feminino, como se segue:
“Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta?
Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido?”

(
1 Coríntios 11:13,14)

Paulo precisou também acessar para si outras fontes da vasta Tradição Judaica, e desta vez, esta fonte se encontra como Tradição no próprio Tanakh – Bíblia – como está escrito:
“E disse-me o Senhor: Filho do homem, pondera no teu coração, e vê com os teus olhos, e ouve com os teus ouvidos, tudo quanto eu te disser de todos os Estatutos da Casa do Senhor, e de todas as Suas Leis; e considera no teu coração a entrada da Casa, com todas as saídas do Santuário. E dize ao rebelde, à Casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Bastem-vos todas as vossas abominações, ó Casa de Israel! Porque introduzistes estrangeiros, incircuncisos de coração e incircuncisos de carne, para estarem no meu santuário, para o profanarem em Minha Casa, quando ofereceis o Meu Pão, a gordura, e o sangue; e eles invalidaram a Minha Aliança, por causa de todas as vossas abominações. E não guardastes a ordenança a respeito das Minhas Coisas Sagradas; antes vos constituístes, a vós mesmos, guardas da Minha Ordenança no Meu Santuário. Assim diz o Senhor Deus: Nenhum estrangeiro, incircunciso de coração ou incircunciso de carne, entrará no Meu Santuário, dentre os estrangeiros que se acharem no meio dos Filhos de Israel. Mas os levitas que se apartaram para longe de Mim, quando Israel andava errado; os quais andavam transviados, desviados de Mim, para irem atrás dos seus ídolos, levarão sobre si a sua iniqüidade. Contudo serão ministros no Meu Santuário, nos ofícios das portas da Casa, e servirão à Casa; eles matarão o holocausto, e o sacrifício para o Povo, e estarão perante eles, para os servir. Porque lhes ministraram diante dos seus ídolos, e fizeram a Casa de Israel cair em iniqüidade; por isso Eu levantei a Minha Mão contra eles, diz o Senhor Deus, e levarão sobre si a sua iniqüidade. E não se chegarão a Mim, para Me servirem no sacerdócio, nem para se chegarem a alguma de todas as Minhas Coisas Sagradas, às coisas que são Santíssimas, mas levarão sobre si a sua vergonha e as suas abominações que cometeram. Contudo, Eu os constituirei guardas da Ordenança da Casa, em todo o seu serviço, e em tudo o que nela se fizer.
Mas os sacerdotes levíticos, os filhos de Zadoque, que guardaram a Ordenança do Meu Santuário quando os filhos de Israel se extraviaram de Mmim, eles se chegarão a Mim, para Me servirem, e estarão diante de Mim, para Me oferecerem a gordura e o sangue, diz o Senhor Deus.
Eles entrarão no Meu Santuário, e se chegarão à Minha Mesa, para me servirem, e guardarão a Minha Ordenança; e será que, quando entrarem pelas portas do átrio interior, se vestirão com vestes de linho; e não se porá lã sobre eles, quando servirem nas portas do átrio interior, e dentro.
Gorros de linho estarão sobre as suas cabeças, e calções de linho sobre os seus lombos; não se cingirão de modo que lhes venha suor.
E, saindo eles ao átrio exterior, ao átrio de fora, ao Povo, despirão as suas vestiduras com que ministraram, e as porão nas santas câmaras, e se vestirão de outras vestes, para que não santifiquem o Povo estando com as suas vestiduras. E não raparão a sua cabeça, nem deixarão crescer o cabelo; antes, como convém, tosquiarão as suas cabeças. E nenhum sacerdote beberá vinho quando entrar no átrio interior. E eles não se casarão nem com viúva nem com repudiada, mas tomarão virgens da linhagem da casa de Israel, ou viúva que for viúva de sacerdote. E a meu Povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano, e o farão discernir entre o impuro e o puro.”

(Ezequiel 44:5-23)
Esta é a única referência explicita sobre corte de cabelo em toda a Bíblia. É claro que sempre que pensamos em cabelo na lei nos lembramos do Voto do Nazireu (Números 6:1-21), no entanto, este é outro assunto.
O seguinte versículo de Devarim 22:5 é o cerne de toda esta regulamentação dos cortes de cabelos masculinos e femininos, e é como segue:
ולא אשה על גבר כלי יהי לא
אשה שמלת גבר ילבש
אלהיך יהוה תועבת כי
אלה עושה כל
Que foi traduzido popularmente desta forma:
“Não haverá traje de homem na mulher, e nem vestirá o homem roupa de mulher; porque, qualquer que faz isto, abominação é ao Senhor teu Deus.”
(Deuteronômio 22:5)
No entanto, seria mais esclarecedor se o versículo tivesse sido traduzido popularmente assim:
“Não deve haver detalhes de homem sobre a mulher e o homem não deve se vestir como mulher, porque abominação é para o Eterno todos os que assim procedem.”


Conclusão
Desta forma conclui-se que; Paulo em 1 Coríntios 11:13-14 fez referencia a Ezequiel 40:20 que por sua vez se refere a Deuteronômio 22:5, e tudo isso de acordo com o estipulado em Deuteronômio 17:8-13 cujo o fim é estabelecer que o homem deve ter cabelos curtos e a mulher cabelos cumpridos pois essa é a mais Pura e Verdadeira Vontade Divina.


Shalom UL’Hitraot!!!