terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Amigos dos judeus X Anti-semitas


Amigos dos judeus X Anti-semitas
Por Maorel Melo
    
     Eu estava outro dia participando de um momento social entre amigos gentios. Em um espaço confortável foram dispostas várias mesas encostadas umas as outras e as rodearam de cadeiras. Tratava-se de um café entre amigos. Não demorou muito e a conversa rolava solta – tudo com muita decência, claro - inevitavelmente a conversa é canalizada por um dos presentes em direção a Bíblia e a Cultura Judaica, a isso eu presenciei uma “explosão” de sentimentos mistos que muito me surpreendeu, pois, estávamos entre amigos. Lógico, tudo ocorreu com o máximo de discrição, porém, foi surpreendente para mim, a final de contas, eu estava entre amigos!
      Pois bem, pensando neste episódio em particular de minhas interações sociais com os não judeus, inventei de navegar de forma aleatória pela NET e deparei com três matérias que me chamaram a atenção em especial e gostaria de partilhar com vocês.
     A primeira matéria tem haver com protestos anti-semitas feitos por não judeus em nosso favor. Lógico; achei isso o máximo!
     A segunda; é uma dica oferecida por um judeu carioca de como devemos melhorar a imagem de nossa comunidade usando para tanto os meios de comunicação que nos cercam, assim, não somente faremos uma diferença positiva na sociedade da qual participamos, como também diminuiremos significativamente a força dos anti-semitas que infelizmente nos cercam.
     A terceira, no entanto, é a melhor delas; pois, nela conheceremos um dos maiores amigos dos judeus de todos os tempos aqui no Brasil.
     Tenham uma boa leitura!


Por: Nathan Lopes Cardozo
Leia a seguir o que pensam sobre os judeus alguns dos mais conhecidos autores não-judeus, em todo o mundo e em diversas épocas. São pessoas que admiram o povo judeu e que se referem à poluição do anti-semitismo em todo o mundo, que parece estar retornando com ímpetos nunca vistos anteriormente.
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" Algumas pessoas gostam dos judeus, e alguns não. Mas nenhum ser pensante pode negar o fato de que eles são, antes de tudo, o mais formidável e o mais extraordinário povo que apareceu no mundo".
Winston Churchill 1
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" O judeu é aquele ser sagrado que baixou do céu o fogo eterno, e tem iluminado com ele o mundo inteiro. Ele é a origem religiosa, manancial, e fonte sobre a qual todo o resto dos povos extraiu suas crenças e suas religiões".
Leon Tolstoy 2
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" Foi em vão que os mantivemos fechados durante vários séculos atrás das paredes do Gueto. Não tão cedo foram destrancados os portões de sua prisão, mas eles facilmente nos alcançaram, até mesmo nesses caminhos que nós abrimos sem a ajuda deles".
A. A. Leroy Beaulieu 3
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" O judeu nos deu o Exterior e o Interior — nossa perspectiva e nossa vida interna. Dificilmente podemos nos levantar pela manhã ou cruzar uma rua sem ser judeus. Nós sonhamos sonhos judeus e almejamos esperanças judaicas. A maioria de nossas melhores palavras, na realidade — novo, surpresa, aventura, sem igual, indivíduo, pessoa, vocação, tempo, história, futuro, liberdade, progresso, espírito, esperança de fé, justiça — são presentes dos judeus”.
Thomas Cahill 4
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" Um dos presentes da cultura judaica para o cristianismo é que tem ensinado os cristãos a pensar como judeus, e qualquer homem moderno que não tenha aprendido a pensar como se fosse judeu não pode dizer que tenha aprendido a pensar sobre tudo."
William Rees-Mogg 5
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"É certo que em certas partes do mundo podemos ver um povo singular, diferenciado dos outros povos do mundo e isto é chamado de povo judeu. Este povo não é somente de notável antiguidade, mas também tem subsistido extraordinariamente por um longo tempo. Porquanto os povos da Grécia e Itália, de Esparta, Atenas e Roma e outros que vieram posteriormente tenham perecido há muito tempo, eles ainda existem, apesar dos esforços de tantos reis poderosos que têm tentado centenas de vezes apagá-los da memória, como testemunham seus historiadores, e como pode facilmente ser julgado pela ordem natural das coisas sobre tal longo período de anos. Eles porém, sempre se preservaram e sua preservação estava prevista. Meu encontro com este povo me surpreende”.
Blaise Pascal 6
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" A visão judaica tornou-se o protótipo de muitos dos grandes desígnios semelhantes para a humanidade, ambos feito divino e humano. Os judeus, então, permanecem no centro da
eterna tentativa de dar à vida humana a dignidade de um propósito”.
Paul Johnson 7
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" Enquanto o mundo perdurar, todo aquele que quiser progredir dentro da retidão virá para Israel, para inspiração, tal qual o povo que teve o senso retidão mais ardente e mais forte”.
Matthew Arnold 8
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Realmente é difícil a todas as outras nações do mundo viverem diante da presença dos judeus. É irritante e muito incômodo. Os judeus preocupam o mundo como eles fizeram coisas que estão além do imaginável. Eles se tornaram os estranhos morais desde o dia em que seu antepassado, Abraão, apresentou ao mundo os altos padrões éticos e o temor dos Céus. Eles trouxeram ao mundo os Dez mandamentos, os quais muitas nações preferem desafiar. Eles violaram as regras da história permanecendo vivos, totalmente contra as probabilidades e o bom senso da evidência histórica.
Eles sobreviveram a todos os seus antigos inimigos, incluindo vastos impérios tais como os romanos e os gregos. Eles irritaram o mundo com o retorno à sua terra natal depois de 2000 anos de exílio e após o assassinato de seis milhões de seus irmãos e irmãs. Eles exasperaram o gênero humano por construir, numa piscada de olhos, um Estado democrático que outros não foram capazes de criar durante séculos. Eles construíram monumentos vivos como o dever para com o sagrado e o privilégio de servir como amigo dos homens. Suas mãos estiveram em cada empreendimento do progresso humano, seja na ciência, medicina, psicologia ou qualquer outra disciplina, mesmo que totalmente fora de proporção para o número atual deles. Eles deram ao mundo a Bíblia e até mesmo seu “salvador”.
Os judeus ensinaram ao mundo não aceitar o mundo como ele é, mas transformá-lo, ainda que só algumas nações procuraram escutar. Sobretudo, os judeus introduziram ao mundo o D-us único, ainda que só uma minoria procurou extrair disso as conseqüências morais. Portanto, as nações do mundo compreendem que elas teriam estado perdidas sem os judeus. E enquanto o subconsciente delas tenta lembrá-las de como muito da civilização ocidental foi moldada a partir dos termos e conceitos articulados pelos judeus, fazem qualquer coisa para suprimir isto. Elas negam que os judeus os recordem de um propósito mais elevado de vida e a necessidade de ser honrado, e fazem qualquer coisa para fugir de suas conseqüências. É simplesmente demais lidar com eles, e também embaraçoso admitir, e acima de tudo muito difícil viver com isso.
Assim, as nações do mundo decidiram uma vez mais sair de seu caminho para algo com que pudesse golpear os judeus. A meta: provar que os judeus são como imorais e culpados do massacre e genocídio como alguns deles próprios o são. Tudo isto com o objetivo de esconder e justificar seu próprio fracasso em protestar até mesmo quando seis milhões de judeus foram levados para os matadouros de Auschwitz e Dachau; para limpar sua consciência moral, da qual os judeus as fazem lembrar. E elas encontraram algo com que agredir. Nada poderia satisfazer mais a elas que encontrar os judeus numa luta com outro povo (que estão completamente aterrorizado pelos seus próprios líderes) contra quem os judeus, contra os seus melhores princípios, têm que se defender pela sua sobrevivência. Com grande complacência, permite o mundo que se reescreva a história de forma que se alimente o ódio de outro povo contra os judeus. Isto apesar do fato de que as nações entendem muito bem que a paz entre as partes já poderia ter vindo há muito tempo atrás, se aos judeus tivesse sido dada uma chance justa. Ao invés disso, elas saltaram alegremente no vagão do ódio só para justificar seu ciúme dos judeus e sua incompetência para lidar com suas próprias questões morais. Quando os judeus olham para esse jogo estranho que ocorre em Haia (o “julgamento do muro”), eles só podem sorrir, como se este jogo artificial provasse paradoxalmente ao mundo como ele
admite a singularidade dos judeus. Está em sua necessidade derrubar os judeus sobre os quais eles se elevaram. "O estudo de história da Europa durante os últimos séculos nos ensina uma lição constante: Que aquelas nações que receberam e de qualquer forma razoável e misericordiosamente trataram os judeus prosperaram; e que as nações que os têm torturado e oprimido escreveram sua própria maldição".
Olive Schreiner 9
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" Se houver alguma honra em todo o mundo da qual eu gostaria de ter, seria ser um cidadão judeu honorário."
A.L. Rowse 10
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Notas:
1. Citado por Geoffry Wheatcroft em "The Controversy of Sion", Sinclair-Stevensohn, Londres, 1996, X1.
2. Leon Tolstoy, citado pelo rabino-chefe J. H. Hertz em "O livro judaico do pensamento", Oxford University Press, 1966, pág.135.
3. Anatole Leroy Beaulieu, historiador francês. "Israel entre as nações", 1893,pág.162. Ibid, pág.174.
4. Thomas Cahill, " The Gifts of the Jews” (“Os Presentes dos judeus", Doubleday, Nova Iorque, 1998, pág., 240-41.
5. William Rees Mogg, "The Times", citado pelo rabino-chefe Jonathan Sacks, "Radical then, radical now" ("Radicais então, radicais agora"), Harpercollins, Londres, 2000, pág 4.
6. Pascal, "Pensées" (“Pensamentos”), tradução para o inglês por A.J. Krailsheimer, Penquin, Harmondsworth, 1968, pág. 171, 176-77.
7. Paul Johnson, "A history of the Jews" ("Uma história dos judeus"), Weindenfeld & Nicolsohn, Londres, 1987, pág. 2.
8. Matthew Arnold, "Literature and Dogma", Smith, Elder, Londres, 1876, pág. 58,
9. Olive Schreiner, novelista sul-africano, citado pelo rabino-chefe J. H. Hertz, pág.177,180, Ibid, pág. 180.
10. A. L. Rowse, "Historians I have known" (“Historiadores que eu conheci"), Duckworth, Londres, 1995.
* Nathan Lopes Cardozo é rabino, conferencista reconhecido mundialmente, e embaixador do judaísmo, do povo judeu,do Estado de Israel e da herança sefaradita.




  Por Carlos Brickman
A POSTURA DESTRA

      Dizem que, quando Joseph Mengele chegou ao Inferno, foi imediatamente procurar seu chefe. Hitler estava curiosíssimo sobre os acontecimentos na Terra. E Mengele foi direto: Chefe, o mundo está virado. Os alemães estão ganhando dinheiro e os judeus estão fazendo guerra.

     Nós, judeus, já fomos atacados pela incapacidade de resistir aos nossos inimigos. Éramos covardes, gente sem brio, servis e submissos. Agora somos atacados pela capacidade de resistir aos nossos inimigos. Somos violentos, prepotentes, sanguinários. Na verdade, para o anti-semita tanto faz o judeu ser indefeso ou guerreiro: ele não é criticado pelo adjetivo, mas pelo substantivo. É judeu, e pronto.
     Não há como lidar intelectualmente com o anti-semita: milhares de anos de doutrinação geraram este tipo de gente e não é com argumentos, com debates, com provas que iremos convencê-los. Estes, precisamos manter à distância; a estes, temos de manter sob vigilância.
      Mas há anti-semitas que não sabem que são anti-semitas, ou que sinceramente se consideram amigos dos judeus mas se comportam como anti-semitas. Com estes, é possível dialogar. Vou tratar de um só aspecto deste diálogo, que é a área na qual me sinto qualificado: o da comunicação.

Vejo dois tipos básicos de comunicadores que agem contra os judeus sem saber o que fazem:
     Primeiro, os ideológicos, para quem Israel, como aliado dos EUA, faz parte da grande conspiração mundial liderada pelo imperialismo ianque. Eles se consideram anti-sionistas mas não anti-semitas (o tipo que tem grandes amigos judeus e respeita profundamente Einstein e Mendelsohn, mas não Sharon ou qualquer outro primeiro-ministro de Israel);

     Segundo, os que, por falta de informação, espalham notícias sem base, ficam indignados com os judeus porque Israel utiliza sua supremacia militar na luta contra o terrorismo e consideram que os palestinos são as mais recentes vítimas do imperialismo.
     Em ambos os casos, a comunidade judaica enfrenta, no que se refere aos meios de comunicação, uma série de problemas que precisam ser resolvidos diretamente, tanto no longo prazo como no dia-a-dia:
     1. Desconhecimento dos fatos. Para boa parte dos jornalistas, os judeus e Israel são um mistério; e, enquanto a versão correta das notícias se limita aos jornais da comunidade, versões incorretas se multiplicam e tendem, como previa Goebbels, a transformar-se em verdade (recentemente, por exemplo, a Globonews informou que soldados israelenses foram os responsáveis pelo massacre dos campos de refugiados de Sabra e Chatila; e um jornalista que teria tudo para estar do nosso lado, o respeitado Célio Franco, do ABC, responsabilizou Sharon pelo massacre);
     2. Viés ideológico. De acordo com a Fenaj, Federação Nacional dos Jornalistas, 70% dos profissionais brasileiros votam no PT. Isso significa que, sendo os EUA aliados de Israel, as posições israelenses são automaticamente pró-americanas, contrárias aos interesses populares e tendentes a beneficiar o imperialismo.
     3. Viés social (derivado do item anterior). Os judeus são ricos, são um camada privilegiada da população, ajudam-se uns aos outros, mas sua visão é de casta, e de uma casta de elite. Se um goy se aproxima dos judeus com fins matrimoniais é repelido, porque judeu não aceita na família quem não seja judeu.
     4. Resquícios anti-semitas. Dificilmente vai-se encontrar um brasileiro que seja efetivamente anti-semita; mas é fácil encontrar aqueles que consideram os judeus usurários, avarentos, capazes de tudo por um bom negócio. Há uma certa aceitação de práticas discriminatórias contra os judeus. Não faz muito tempo, num dos últimos governos militares, de Geisel ou Figueiredo, o chanceler iraquiano Tareq Aziz se recusou a participar de uma solenidade junto com o prefeito do Rio, Israel Klabin, e disse claramente o motivo da recusa: não participaria de cerimônias ao lado de um judeu. Não houve protestos da imprensa contra a agressiva atitude do diplomata estrangeiro. O ministro da Previdência de um dos governos militares, Jair Soares, disse com todas as letras que Albert Sabin estava a serviço do sionismo internacional, por criticar um plano de vacinação elaborado pelo Governo brasileiro.
     5. A curiosa visão de que Israel, com menos habitantes do que o Rio de Janeiro e território menor do que o de Sergipe, é o Golias; e os árabes, com território e população maiores que os do Brasil, são David. Os palestinos são vítimas, os israelenses são conquistadores; são balas, tanques e canhões de um lado contra pedras do outro; são soldados israelenses contra bebês palestinos. Os homens-bomba são apenas michignes, não expressam uma política palestina de incentivo ao terror; e, veja só, são suicidas, em vez de homicidas.

     Há mais, evidentemente, e não é preciso listar esses problemas que qualquer membro da comunidade conhece a fundo. Mas agora vem a boa notícia: existe, sim, dentro das técnicas de comunicação e de gerenciamento de crise, uma maneira correta, eficiente e ética de enfrentá-los. É simples: contra a escuridão, a luz. Contra as mentiras, a verdade.

     Há pouco falei em gerenciamento de crise. É uma técnica relativamente moderna, que surgiu para defender os alvos da artilharia da imprensa. É eficiente; é uma das áreas em que meu escritório de comunicação se especializou e em que tem realizado numerosos trabalhos.

     Com certa frequência, acontece com uma empresa, ou com um homem público, ser atingido por uma série de acusações. Algumas são corretas; outras são falsas; uma boa parte, eu diria que a maior parte, traz uma verdade incompleta coberta por uma blindagem de mentiras, ou de má interpretação dos fatos. É mais ou menos o que acontece com os judeus: de repente, os alvos dos meios de comunicação somos nós. E temos de defender-nos, na área de comunicação, usando as técnicas da comunicação.

     Já existem, especialmente nos EUA, ótimos especialistas em gerenciamento de crise trabalhando em benefício da comunidade. Vou citar apenas um, que me impressiona pela qualidade do trabalho: o Honest Reporting, que mapeia a grande imprensa internacional e insiste com os editores em corrigir as notícias sempre que há necessidade. O Honest Reporting desenvolveu maneiras de expressar-se que, de tão boas, adotei como normas em meu escritório.
     O Honest Reporting as chama de Quatro Regras Cardeais do ativismo na comunicação: concisão (foco no erro, nos números, nos fatos, não em generalidades vagas que possam ser desmentidas); precisão (as reclamações devem ser factuais, nossas provas devem ser irrespondíveis, e sempre que possível devemos citar a fonte da informação correta); educação (sem insultos, para não colocar o meio de comunicação na defensiva); e persistência. Dá trabalho, amigos. Muito trabalho. Mas funciona.

     Como se faz este trabalho, tanto para empresas como para a comunidade ? Como isso funciona, em termos práticos?
É essencial:
     1. Acompanhar minuciosamente o noticiário, os programas de rádio e TV, os jornais, a Internet, e responder imediatamente, dentro dos princípios da concisão, precisão, educação e persistência, a cada inverdade, a cada agressão, a cada resquício de anti-semitismo. Contra os mitos do obscurantismo, nada melhor do que a exposição à luz do Sol.
     2. Encaminhar aos veículos de comunicação, o mais rapidamente possível, os pontos de vista da comunidade em relação aos fatos que sejam de seu interesse.
     3. Ter disponibilidade permanente para atender aos veículos de comunicação, seja divulgando informações, seja concedendo entrevistas ou declarações, seja disputando espaço para divulgação e resposta.
     4. Dispor de prestígio jornalístico junto aos meios de divulgação, de maneira a facilitar a divulgação do material necessário a repor a verdade.

     5. Estar apto a fornecer artigos para as principais publicações. Os artigos têm baixo índice de leitura, mas dão prestígio; e os poucos que os lêem são formadores de opinião.
     6. Ser hábil o suficiente para evitar choques frontais com os veículos de comunicação (e, se for possível, até mesmo com os jornalistas, mesmo os mais agressivos). Caso haja possibilidade, devemos matar a fera; mas devemos evitar feri-la. É imprescindível manter boas relações com veículos e profissionais que continuarão vivendo a nosso lado e escrevendo a nosso respeito.

     7. Centralizar a resposta da comunidade. Claro que não podemos impedir que um judeu indignado diga que a Rede Globo está fazendo propaganda anti-semita; mas deve ficar claro quando a comunidade está falando (sempre dentro das normas do Honest Reporting). Não pode ser a mesma coisa um posicionamento da comunidade e um de um cidadão indignado – este, muitas vezes sem razão.
     Tudo isso, enfim, é indicativo; não adianta conhecer os princípios sem ampla dose de trabalho braçal e muita infra-estrutura para suportar a carga.

     A pior parte deste trabalho é a repetição. Corrige-se o erro hoje, amanhã, sempre. Se alguém deixa de cometer o erro, sempre haverá outro que o cometa. Erros já cometidos são quase eternos, já que ficam nos arquivos, prontos para ressuscitar (e ser novamente desmentidos). Esta repetição não deve, apesar de tudo, matar a urbanidade: nós repetimos, mas o receptor está ouvindo nossa versão pela primeira vez.
     Resolve ? Resolve, do ponto de vista da comunicação. É uma batalha sem fim, mas gera-se um equilíbrio que hoje não existe na imprensa.
     Muitas outras coisas podem ser feitas, sempre do ponto de vista da comunicação. Ações tendentes, por exemplo, a expor a vida judaica à população em geral. Vou apenas exemplificar (não tenho condições de saber se aquilo de que estou falando é ou não viável). Digamos, convidar o público para nossa festa de Purim, da mesma maneira que os católicos italianos que vivem no Brasil comemoram em público a festa de Nossa Senhora Achiropita. Ou um grande Seder comunitário de Pessach, com todo o ritual, aberto a grupos específicos de goyim – digamos, os moradores da favela atendida pelo Hospital Albert Einstein. Temos na comunidade gente altamente capacitada para criar eventos de relações públicas que podem ter bons efeitos na construção e reforço da imagem da comunidade judaica em São Paulo.
     Mas não esqueçamos: todo este trabalho de imprensa, de gerenciamento de crise, de relações públicas, tudo isso resolve uma parte do problema, aquela que acontece nos meios de comunicação. Mas nada resolve do ponto de vista geral, daqueles que são conscientemente anti-semitas, e que responsabilizam Marx, Freud e Marcuse, por judeus, por todos os males do mundo. Isso exige outro tipo de ação. Mas não desanime: minha avó Maria, que veio da Ucrânia para Franca no inicio do século passado, sempre me ensinou que é duro ser judeu. E nós somos judeus, continuamos judeus, enquanto os vários Reichs que tentaram nos esmagar desapareceram da face da Terra.
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Carlos Brickman é jornalista:
Palestra sobre “Estratégias na luta contra o anti-semitismo no Brasil” proferida para a reunião da B’nai Brith que teve como tema “Anti-semitismo e insegurança hoje”.







UM AMIGO CHAMADO PEDRO
Por Rachel Stoianoff

      Diz o velho ditado que todos os caminhos levam a Jerusalém. No meu caso alguns caminhos levaram-me a Petrópolis. Lendo um artigo sobre a cultura judaica de D. Pedro II, tive conhecimento também da existência do Rabino Mossé de Avignon na Provença Francesa e fiquei encantada com a grande amizade que mantiveram até o fim de suas vidas.
     Decidi ir a Petrópolis visitar o Museu Imperial. Muito interessada no que vi, voltei lá três vezes. Apreciei o manto, o cedro e a coroa imperial que pertenceram ao Imperador. Resolvi conhecer melhor a cultura judaica de Pedro e o respeito e a admiração que ele tinha pelos judeus. Anotações daqui e dali resultaram neste trabalho, pois achei que devia contar o que foi visto e pesquisado. No final concluí que em outro tempo mais antigo, em outra dimensão no espaço de nossas vidas eu tive também um Amigo Chamado Pedro.
     No arquivo em Petrópolis, achamos mais uma carta que o rabino Mossé dirigiu ao imperador em 9 de agosto de 1889, enviada juntamente com a biografia “Dom Pedro II, Empereur du Brésil”, cuja autoria e até existência do autor tinham sido postas em dúvida por d’Escragnolle. A missiva, em estilo muito floreado, fecha com o seguinte parágrafo:
“Uma das mais belas retribuições de minha vida será apresentar, como historiador francês, o maior dos modernos imperadores, D. Pedro II. Com os sentimentos de minha devota admiração, imploro Sua Majestade aceitar esta nova oferenda e as mais profundas homenagens de seu humilde e respeitoso servo, discípulo de Moisés e dos profetas, que invoca para Sua Majestade, Sua Augusta Família e seu Povo, a graça divina do Supremo Criador, para que Ele o proteja contra os ataques dos insetos e o coloque à sombra das Suas Asas (em hebraico:) que os anjos o acompanhem em todas Suas andanças!”
- Benjamin Mossé   Grão-Rabino Oficial da Instituição Pública (WOLF, Egon e Faria, 1983).


     A História do Povo Judeu, tão ligada à religião e as tradições seculares, é uma história muito especial. A história dos judeus tão diversa da de outros povos é, no entanto a história de toda humanidade.
     As narrativas bíblicas esclarecem os caminhos da humanidade desde a época nômade, desde as tribos, até a formação de nações construídas com leis próprias. As histórias dos profetas, reis, e patriarcas, são um patrimônio de conduta para todas as crenças e todos os homens. A história judaica mesclou-se à história de inúmeros povos e países onde os judeus viveram, incluindo o princípio da História do Brasil desde o descobrimento, Cabral, Fernando Noronha, Pedro da Gama, tantos que para cá vieram, aqui estiveram em paz enquanto durou a repressão à inquisição pelo Marquês de Pombal. Com a chegada da corte portuguesa em 1808, os portos foram abertos à imigração e os judeus que chegaram a partir daí não tinham a ver com os anteriores cristãos novos. 

     O Brasil Império florescia sob o reinado do jovem Imperador Pedro II. E aqui propriamente começa a nossa história: o imperador amigo e admirador do povo da história e da língua hebraica deixou uma grande profusão de documentos sobre o assunto, e registrou de próprio punho em seus diários, o bom relacionamento e as amizades que tinha e cultivava com os judeus do Brasil e de outras terras.
     No museu de Petrópolis, encontra-se todo um acervo desta face pouco conhecida do Imperador D. Pedro, que foi coroado com 15 anos, falava francês e inglês, era culto e foi sempre dedicado ao estudo durante a vida apesar dos seus deveres para com o Brasil. Em 1830 seus estudos incluíram latim, música, dança, caligrafia, geometria, matemática, geografia e, em 1839 ele dedicou-se ao alemão e italiano. Depois D. Pedro aprendeu com perfeição o grego, hebraico, sânscrito, árabe, provençal e a língua tupi.
     Em 1891, D. Pedro publicou um livro de versões de poesias judaicas declarando então, que se dedicara ao hebraico, para conhecer a história e literatura dos judeus e os livros dos profetas. Seu primeiro professor, foi o judeu sueco Aker Blom por volta de 1860 e depois os judeus Koch, Henning e Seybold.
     Em 1887, viajando à Europa, D. Pedro declara ser o hebraico sua língua preferida e, em seu diário, ele anota suas traduções do hebraico, assinala que ministrou aulas de hebraico, depois registra “Traduzi Neemias com facilidade, não tenho esquecido o hebraico”. 

     Até depois de abdicar, D. Pedro continuou estudando sempre a língua hebraica. Traduziu Camões para o hebraico, passou partes do Velho Testamento do hebraico para o latim, dentre elas o Cântico dos Cânticos, Isaías, Lamentações e Jó. D. Pedro foi o precursor dos estudos hebraicos no Brasil e por causa dele muitos estudiosos passaram a cultivar a língua hebraica. O Imperador deixou um trabalho de 19 páginas que está no Museu de Petrópolis com o significado de palavras hebraicas do livro dos Salmos e do Gênesis, sendo que ele as traduziu para o inglês e o grego, não para o português. Este documento contém o hebraico escrito de seu próprio punho. 


     D. Pedro tinha amigos judeus aos quais freqüentava e que também recebia no Paço Imperial. Quando o Imperador criou a Ordem da Rosa vários judeus a receberam no Brasil, como o Coronel Francisco Leon Cohn, Henry Nestor, Dreifus e outros israelitas residentes em outros países também foram honrados. Abraão Bernel, por exemplo, recebeu a ordem por serviços humanitários no Brasil. Firmas inglesas a receberam, todas elas relacionadas aos Rothschild. O coronel Francisco Leon Cohn chegou a Tenente Coronel da Guarda Nacional em 1876. Um judeu, Morris N. Kohn, americano, fez a planta para a instalação da luz elétrica no Palácio da Quinta da Boa Vista. Este judeu que veio residir no Brasil foi o inventor da cama patente. Quem lembra?
     Em 1869, chegou ao Rio o maestro e pianista judeu Gottischalk. e entre muitas apresentações houve uma solene dedicada ao Imperador, composta de 20 músicos sob a regência do maestro, e foi apresentada à Grande Marcha Solene, variações do Hino Nacional. A Lista de artistas israelitas que aqui vieram foi enorme e tiveram sempre o apoio de sua Majestade: Harold Hime, Paula Bucheim, Max Lichtenstein, Ida e Helena Goldsmith e muitos outros. 
   
     Quando a Independência do Brasil foi proclamada, a Constituição declarou  a religião romana como a religião do Império, mas permitia outras religiões. D. Pedro viajou muito e por onde passava visitava as sinagogas; assim foi nas duas sinagogas principais de Londres, sendo, que em uma delas o rabino Marks abriu a Torá a seu pedido, e no Sábado lá estava D. Pedro assistindo ao culto onde recebeu benções para si e toda a família Imperial. Em S. Francisco a Torá lhe foi apresentada e o Imperador a leu fluentemente, leu o livro de Moisés e traduziu o texto com desembaraço para surpresa dos presentes. E assim visitou as sinagogas das cidades onde esteve nos Estados Unidos. fez o mesmo na Europa.
     No seu diário ele registra a passagem pela sinagoga de Bruxelas, esteve também na sinagoga de Toledo fazendo anotações sobre a música e o canto assistindo aos shabat invariavelmente. O Imperador foi à Palestina. Esteve numa sinagoga Samaritana em Sebastia e ele anota que a Torá que lhe foi apresentada era de pele de gazela, muito antiga e tinha o Pentateuco escrito em letras fenícias ou cananéias usadas antes do exílio Babilônico.
      Em Damasco procurou os judeus e os visitou. Na Palestina esteve em Cafarnaum e anotou: “Estudei a Bíblia quanto pude”, e trouxe uma pedra das ruínas da Sinagoga. Foi nesta viagem, várias vezes à Jerusalém. E anotou: “Vou ao Monte das Oliveiras e vou ver os judeus orando junto à Muralha do Templo”.
     E voltando ao Brasil, D. Pedro sempre ligado aos seus amigos judeus, continuou mantendo vasta correspondência sobre o hebraico. Havia um especial – Ernest Renau, filósofo, professor de hebraico e sânscrito, era escritor, mas os livros por ele publicados sobre religião não interessaram a D. Pedro, visto que os pontos de vista de Renau não coincidiam com o sentido religioso do Imperador. D. Pedro era religioso, o  estudo do hebraico, o interesse pelas sinagogas e os judeus, estão alinhados com ele, que declarava: “Creio em Deus, sempre tive fé”.  


     O Brasil seguia seu caminho, e o Império negociava com o exterior, o Brasil tornava-se conhecido e o Imperador recebia publicações de várias partes do mundo. Assim foi-se formando a biblioteca Imperial. Dos Estados Unidos, chegou um livro em hebraico de autoria do rabino Halish e também um manuscrito de Jerusalém enviado por Salomon Henvitz. Muitas cartas em hebraico, poemas, um livro sobre Judah Helevy vieram ao Castelo D’EU quando o Imperador já estava no exílio.
     No exílio, D. Pedro dizia aos jornalistas que o abordavam: “não me chamem Vossa Majestade, mas Monsieur d’Alcantara”.
     As anotações de D. Pedro depois que perdeu o Império são diferentes. Ele foi para França depois que a esposa morreu, e continuou freqüentando os meios judaicos. As anotações em seu diário são variadas referentes aos seus contatos com os israelitas radicados em setores diversos: professores, médicos, escritores, rabinos etc.
     Seis semanas antes de sua morte, ele enviou carta ao professor Max Pettenkoper, agradecendo as poesias em hebraico. D. Pedro foi amigo do rabino Benjamin Mossé de Avinhão, que lhe sugeriu que traduzisse os poemas litúrgicos daquela região da provença, pois ele dominava os dois idiomas. Os poemas eram escritos de maneira especial, eram piuts, escritos uma linha em hebraico, outra em provencal. D. Pedro fez a tradução ao seu modo. O texto hebraico foi para o francês e o provençal para caracteres latinos e assim D. Pedro fez muitas traduções para o rabino de Avinhão, incluindo o aramaico.
     As publicações religiosas do rabino denominadas “ La Famille de Jacob” estão documentados os trabalhos de D. Pedro. A Biblioteca Nacional de Paris possui esses exemplares, as bibliotecas judaicas na França e em Israel não os têm, embora constem documentos franceses as traduções feitas pelo Imperador dos “Treze atributos de Deus” do rabino Salomon bem Isaac de Troyes, no Brasil não há nenhum documento a respeito. 

     D. Pedro recebeu em 15/09/1873 o grande Diploma de Honra por seus trabalhos por intermédio do rabino Mossé que, juntamente com o Barão do Rio Branco, escreveram uma biografia do Imperador.
     A morte de D. Pedro aos 68 anos foi um choque para o rabino de Avinhão e ele escreveu um necrológio no seu jornal “La Famille de Jacob”. D. Pedro II d’Alcantara, cuja biografia um modesto rabino teve a honra de escrever com a colaboração de um sábio brasileiro Barão de Rio Branco, foi uma das mais admiráveis figuras de nossa época moderna. Fundador e organizador do imenso Império brasileiro foi amigo das letras. Conhecedor a fundo do hebraico, era certamente mais fluente nesta língua que muitos filhos de Israel. Ele não somente amava nossa língua mas nos amava, elogiava as virtudes de nosso povo e indignava-se com o anti-semitismo.
     A última obra em que o monarca trabalhava era judaica, uma manifestação ressoante em favor do judaísmo que guardara para sempre sua memória.
     O povo judeu que encontrou tanto desamor através dos séculos também teve amigos sinceros, e entre eles em muito especial, Pedro João Leopoldo Salvador Babiano, Francisco Xavier de Paula Leopoldino Miguel, Gabriel Gonzaga de Alcantara Orleãns e Bragança, Imperador do Brasil.



Referências Bibliográficas:
Wolf, Egon e Frieda. D. Pedro II e os Judeus. Ed. B’nai B’rith. 1983.
Wolf, Egon e Frieda. O Imperador e o Rabino – Resenha Judaica. Arquivo do Museu Imperial de Petropólis.

Fontes bibliográficas:

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012


Mnhyg
O Vale dos Filhos de Hinom
3° Parte

     Na segunda parte desta matéria, descobrimos como e quando foi criado o Guei-Hinom. Nesta terceira parte descobriremos como ele veio a se chamar por esse nome. Para tanto, devemos retroceder na História do Oriente Médio nos deter por uns instantes no período em que aquelas terras eram chamadas de: Terras de Canaã ou País de Canaã. Assim obteremos a resposta para a pergunta:


Como o Guei-Hinom veio a ser chamado por esse nome?

     O antigo país de Canaã recebeu esse nome de seu conquistador, que se chamava Canaã que era o filho do filho caçula de Noé de nome Cham – o mesmo que na maioria das traduções aparece como Cão -, o mesmo que foi amaldiçoado por seu pai por expor as vergonhas de seu pai em público. Dele – Cham – nascera todas as nações perversas de sobre a face da terra – muitas delas extintas hoje em dia – que mais tarde se mesclariam uns com os outros tornando praticamente impossível identificá-los, restando-nos apenas o dever de condenar rejeitando as suas práticas idólatras e malignas. Como está Escrito:

E os filhos de Noé, que da arca saíram, foram Sem, Cão e Jafé; e Cão é o pai de Canaã.
(Gênesis 9:18)

     Pois bem, havia em Canaã um homem chamado Hinom, suas possessões correspondiam ao que hoje chamamos de Judéia ou Palestina. Como todo o povo de Canaã, Hinom era um homem cuja fé era idólatra, servia a muitas divindades e para cada divindade um forma de cultuá-las diferente se fazia necessário. Dentre todas as divindades cultuadas por Hinom, houve uma a qual ele mais se dedicava: Moloq era o nome desta divindade, e para esta divindade Hinom reservou dentre suas propriedades um vale para lá erigir um altar a Moloq e sobre este altar sacrificar os seus filhos primogênitos, assim como os filhos primogênitos de seus súditos. Foram tantos os inocentes lá sacrificados que o local adquiriu um “ar tenebroso” e a atração para o mal, lá se tornara mais forte e quase irresistível. Este vale ficaria conhecido como: O Vale de Hinom pelos seus filhos e pelos habitantes de Canaã.


     Por causa dos muitos pecados dos caananitas, o Eterno, Bendito Seja o Seu Nome, enviou a nossos pais para desapossá-los de suas possessões a fim de santificar a terra a qual os caananitas por muito tampo haviam conspurcado com suas práticas profanas e asquerosas. Como está Escrito:

     Amarás, pois, ao SENHOR teu Deus, e guardarás as suas ordenanças, e os seus estatutos, e os Seus Juízos, e os Seus Mandamentos, todos os dias. ... Guardai, pois, todos os mandamentos que eu vos ordeno hoje, para que sejais fortes, e entreis, e ocupeis a terra que passais a possuir; E para que prolongueis os dias na terra que o SENHOR jurou dar a vossos pais e à sua descendência, terra que mana leite e mel. ... Guardai-vos, que o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses, e vos inclineis perante eles; E a ira do SENHOR se acenda contra vós, e feche ele os céus, e não haja água, e a terra não dê o seu fruto, e cedo pereçais da boa terra que o SENHOR vos dá. ... Eis que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição; A bênção, quando cumprirdes os mandamentos do SENHOR vosso Deus, que hoje vos mando; Porém a maldição, se não cumprirdes os mandamentos do SENHOR vosso Deus, e vos desviardes do caminho que hoje vos ordeno, para seguirdes outros deuses que não conhecestes.
Estes são os estatutos e os juízos que tereis cuidado em cumprir na terra que vos deu o SENHOR Deus de vossos pais, para a possuir todos os dias que viverdes sobre a terra.
Totalmente destruireis todos os lugares, onde as nações que possuireis serviram os seus deuses, sobre as altas montanhas, e sobre os outeiros, e debaixo de toda a árvore frondosa; E derrubareis os seus altares, e quebrareis as suas estátuas, e os seus bosques queimareis a fogo, e destruireis as imagens esculpidas dos seus deuses, e apagareis o seu nome daquele lugar. ... Quando o SENHOR teu Deus desarraigar de diante de ti as nações, aonde vais a possuí-las, e as possuíres e habitares na sua terra guarda-te, que não te enlaces seguindo-as, depois que forem destruídas diante de ti; e que não perguntes acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram estas nações os seus deuses, do mesmo modo também farei eu. Assim não farás ao SENHOR teu Deus; porque tudo o que é abominável ao SENHOR, e que ele odeia, fizeram eles a seus deuses; pois até seus filhos e suas filhas queimaram no fogo aos seus deuses. Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás.
(Deuteronômio 11:1-32 / 12:1-32)

     Depois da partilha do país de Canaã entre os israelitas, a parte que correspondia ao Vale de Hinom pertenceu a Tribo de Judá e a Tribo de Benjamim, também a estas duas tribos pertenceram os lugares mais sagrados importantes da Judéia, que foi como veio a se chamar Canaã depois de ser conquistado pelos hebreus. 

     Os cultos caananitas foram extintos na Judéia, o Vale de Hinom ficou conhecido como o antigo Vale dos Filhos de Hinom e as atividades horrendas que lá se executavam, já não se executavam mais. Contudo, o lugar se tornara o mais maldito de toda a terra. O magnetismo que lá residia era forte demais para ser resistido por pessoas sem nenhum preparo espiritual a fim de poder se livrar de tamanha influência maligna, e nessa condição, se encontravam a maioria dos filhos de Israel. Pois, apesar de terem sido tirados do Egito pela Mão de Deus, estavam agora muito confiantes a ponto de pensarem que não precisariam fazer mais nada a fim de proteger-se a não ser viver suas próprias vidas da melhor forma que entendiam.

     No livro: O Mais Completo Manual de Judaísmo, publicado pela Editora Sefer no Brasil, o rabino Blech diz:

“Naquela época os filhos de Israel se preocupavam muito uns com os outros, porém, se esqueceram de Deus.”

     E por causa disso, livraram o país dos homens iníquos, mas não puderam livrá-lo da iniqüidade, e assim; muitos dos israelitas foram seduzidos pelo Yetzer HaRa daquele lugar, e mais particularmente pelo Vale dos Filhos de Hinom, que desde a conquista hebréia se encontrava sedento pelo sangue de inocentes. Estes terminaram por ressuscitar o culto a Moloq e a sacrificar também a seus filhos no Vale dos Filhos de Hinom. Como está Escrito:

"Acaz subiu ao trono com vinte anos. E reinou dezesseis anos em Jerusalém. Não fez, como seu antepassado Davi, o que o Eterno aprova. Imitou o comportamento dos reis de Israel, fazendo estátuas para os ídolos. Queimou incenso no vale dos Filhos de Hinom e chegou até a sacrificar seus filhos no fogo, conforme os costumes abomináveis das nações que o Eterno tinha expulsado de diante dos israelitas."
(2 Crónicas 28:1-3)


     Dessa forma adquiriu o Guei-Hinom um representante físico, pois, a partir Dalí não só teriam sido assassinados muitos inocentes, como também principiara em beber Sangue Santo, o sangue dos filhos de Israel, e isto fez com que o espiritual se fundisse com o material e o Vale dos Filhos de Hinom se tornou no portal físico para o Guei-Hinom.
     Consta no Zohar:

“Rabi Isaac disse: Ele estendeu a Sua Mão Esquerda e Criou este mundo. Ele estendeu a Sua Mão Direita e Criou o mundo de Cima; Ele estendeu a Sua Mão Esquerda e Criou este mundo como está Escrito: “Minha há posto o Fundamento da Terra e Minha Mão Direita há expandido os Céus; quando Eu os chamo eles se elevam juntos.” (Isaías 44:13), todos foram criados em um momento. E Ele Fez este mundo em correspondência com o Mundo Superior e todas as coisas que é de Cima tem sua contraparte aqui em baixo e todas as coisas aqui em baixo tem sua contraparte no Mar, e Tudo constitui uma Unidade. Ele Criou os mensageiros nos mundos superiores, os seres humanos neste mundo e ao Leviatã no Mar – para unir a Tenda, para que fosse um Todo – (Êxodo 36:18)”

     Dessa forma, declara o Zohar que tudo o que é espiritual no mundo espiritual tem sua representação material no nosso mundo material. Isso nos faz lembrar-se das palavras de Yeshua Rabeinu HaMashiach, quando disse:

Ora, ninguém subiu aos Céus, senão o que desceu dos Céus, o Filho do Homem, que está nos Céus.”
(João 3:13)

     Então, resta-nos mais uma pergunta: Onde fica o Guei-Hinom, ou seja; onde se encontra a sua contraparte física? 


     O Guei-Hinom encontra-se ao Sudoeste e ao Sul da Antiga Jerusalém. (Josué 15:8; 18:16; Jeremias 19:2, 6). O Vale estende-se para o Sul desde as imediações do actual Portão de Yafo, conhecido em árabe por Bab-el-Khalil, vira abruptamente para o Este no canto Sudoeste da cidade, e segue ao longo do lado Sul ao encontro dos vales de Tiropeom e do Cédron, num ponto perto do canto Sudeste da Cidade. Numa zona um pouco acima do local onde este Vale converge com os vales do Tiropeom e do Cédron, existe uma área mais larga. Era aqui a localização de Tofet, mencionado em 2 Reis 23:10. No lado Sul do Vale, perto da sua extremidade oriental, encontra-se o lugar tradicional de Acéldama, o "Campo de Sangue", o Campo do Oleiro comprado com as 30 moedas de prata de Yehudá HaShaliach (Mateus 27:3-10; Atos 1:18, 19). Mais para cima, o Vale é bastante estreito e fundo, com muitas câmaras sepulcrais nos socalcos dos seus penhascos.


     O Guei-Hinom faz parte da fronteira entre as tribos de Judá e de Benjamim, encontrando-se o território de Judá ao Sul, o que situava Jerusalém no território de Benjamim, conforme delineado em Josué 15:1, 8; 18:11, 16. O Vale é agora conhecido pelos árabes como Uádi er-Rababi.
    O termo que designa o Guei-Hinom, em sua versão aramaica, surge doze vezes no texto bíblico, nos seguintes locais:
  • Mateus 5:22, 29, 30; 10:28; 18:9; 23:15, 33
  • Marcos 9:43, 45, 47
  • Lucas 12:5
  • Tiago 3:6
     Geena refere-se ao Vale de Hinom, fora das muralhas de Jerusalém. Este Vale era usado como depósito de lixo, onde se lançavam os cadáveres de pessoas que eram consideradas indignas, restos de animais, e toda outra espécie de imundície. Usava-se enxofre para manter o fogo aceso e queimar o lixo. Yeshua Rabeino HaMashiach usou este Vale como símbolo da Punição destinada aos pecadores.

     O neto de Acaz, o Rei Manassés, promovendo este tipo de prática degradante em grande escala, também veio a fazer "os seus próprios filhos passarem pelo fogo no Vale dos Filhos de Hinom", conforme 2 Crónicas 33:1, 6, 9. O Rei Josias, neto de Manassés, finalmente acabou com esta prática por profanar este lugar, especialmente em Tofete, tornando-o impróprio para a adoração, talvez por espalhar ali ossos ou lixo, conforme 2 Reis 23:10 que informa:

"Também profanou a Tofeth, que está no Vale dos Filhos de Hinom, para que ninguém fizesse passar a seu filho, ou sua filha, pelo fogo a Moloch."

      Comentando este versículo, o erudito judeu David Kimhi (1160?-1235?) diz o seguinte como possível explicação sobre Tofete:

"Nome do lugar em que eles faziam seus filhos passarem pelo fogo para Moloque. O nome do lugar era Tofete, e diziam que era chamado assim porque eles dançavam e tocavam pandeiros – do Hebraico Tofim - por ocasião da adoração, para que o pai não escutasse os gritos do filho quando o estivessem fazendo passar pelo fogo, e para que seu coração não ficasse agitado e ele o tirasse das mãos deles. E esse lugar era um Vale que pertencia a um homem chamado Hinom, de modo que era chamado de 'Vale de Hinom' e de 'Vale dos Filhos de Hinom'. E Josias conspurcou aquele lugar, reduzindo-o a um lugar impuro, para nele se lançarem carcaças e toda impureza, a fim de que nunca mais subisse ao coração do homem fazer seu filho ou sua filha passar pelo fogo para Moloque." 
(Biblia Rabbinica, Jerusalém, 1972).

          O Novo Comentário Bíblico, na página 779, em inglês, diz:

"Geena era a forma helenizada do nome do Vale de Hinom em Jerusalém, no qual se mantinham constantemente o fogo aceso para consumir o lixo da cidade. Este é um poderoso quadro da Punição destinada aos pecadores. Visto que alguns israelitas sacrificavam ali seus filhos a Moloque, o Vale veio a ser considerado como lugar de abominação. Num período posterior foi transformado num lugar onde se jogava o lixo, e perpetuavam-se os fogos para impedir uma pestilência."
(Nova Iorque, 1950, Vol. 15, p. 5576)

     Apesar dos israelitas darem continuidade – ainda que de forma tardia – ao culto idólatra e perverso em nome de Moloch. Os estudiosos afirmam ainda que, quando os israelitas queimavam seus filhos vivos, naquele Vale, Deus disse que algo tão horrível nunca lhe subira ao coração, conforme Jeremias 7:30-31:

"Pois os filhos de Judá fizeram o que é mau aos meus olhos, é a pronunciação de Jeová. Colocaram as suas coisas repugnantes na casa sobre a qual se invocou meu nome, para a aviltarem. E construíram os altos de Tofete, que está no vale do filho de Hinom, para queimarem no fogo a seus filhos e suas filhas, coisa que eu não havia ordenado e que não me havia subido ao coração."

     O conceito rabínico, judaico, segundo expresso na Enciclopédia Judaica, reza como segue:

"No dia de julgamento final, haverá três classes de almas: as dos justos serão imediatamente inscritas para a vida eterna; as dos iníquos, para o Guei-Hinom; mas as daqueles cujas virtudes e pecados se equilibrarem baixarão ao Guei-Hinom, e flutuarão para cima e para baixo até que se ergam, purificadas. Por causa deste santuário ritualístico para sacrifícios humanos, Jeremias amaldiçoou o lugar e predisse que se tornaria um lugar de morte e de corrupção (7:32; 19:6). Este vale é mencionado, não por nome, em Isaías 66:24, mas como local em que os cadáveres de rebeldes contra o Eterno devem jazer. Na literatura rabínica, porém, o fogo eterno não é certamente punição eterna. O Guei-Hinom é um lugar em que os iníquos são torturados a fim de se purifiquem ou sejam guardados para o Fim Último, o que talvez reflita a idéia de aniquilação (Mt 10:28)."


      Assim, respondemos as seguintes questões até aqui: Quando foi criado o Guei-Hinom? Como foi criado o Guei-Hinom? Como ele veio a ser chamado por esse nome? Onde ele fica localizado?
     Na próxima parte obteremos a resposta das seguintes questões: O que acontece lá? E o que devo fazer para me livrar do Guei-Hinom?

Shalom UL’Hitraot!!!

Fontes bibliográficas:

·         Wikipédia – A maior Enciclopédia digital do mundo.
·         Zohar – Editora Sigal – Argentina.
·         Bíblia on-line - www.bibliaonline.com.br

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O Vale dos Filhos de Hinom 2° Parte

               O Vale dos Filhos de Hinom 2° Parte
                                       
     Na primeira parte desta matéria, nós “passeamos” por um panorama histórico geral sobre o conceito de Inferno patente mais ou menos de forma universal em nosso mundo. Descobrimos a origem deste conceito e cavamos suas raízes até nos encontrarmos exatamente no ponto de partida de tudo isso; o Tanakh, a Palavra de Deus. Nela encontramos que o nome original deste terrível lugar é na verdade Guei-Hinom, e no final da matéria algumas perguntas se fizeram necessárias e nós as registramos esperando respondê-las nas páginas que se seguiriam a 1° Parte.
     Pois bem, nesta segunda parte, procuraremos responder a primeira pergunta, que foi: Quando foi criado o Guei-Hinom?
     Porém, antes disso; leremos a transcrição do prefácio do Zohar – O Livro do Esplendor – no qual nos apoiaremos além das Sagradas Escrituras para esboçar de forma clara e concisa o conceito primeiro do Guei-Hinom.
     O Zohar que temos em mãos é o fruto de um imenso e abençoado trabalho realizado pela Comunidade Judaica Anussita da Argentina e publicado pela editora Sigal que gentilmente nos dispôs uma cópia em espanhol da qual traduzimos alguns trechos para fundamento de nosso aprendizado.
     Assim diz o prefácil:
     Como os misticismos de outras religiões, o misticismo judaico é uma atitude mental que traduz o empenho do crente por lograr e manter a comunhão com Deus. No Judaísmo Talmúdico, apesar de que se assinala expressões místicas em meio às suas páginas, a comunhão do devoto com Deus é uma conseqüência da observância dos preceitos. Em contra partida, no misticismo, a dita comunhão vem primeiro que os Mandamentos e, portanto, pode elevar o crente ao êxtase.
     O misticismo judaico se apresenta simultaneamente em duas modalidades: uma devocional ou prática, e uma intelectual ou especulativa. Na primeira, o misticismo acentua aqueles aspectos dos preceitos que servem para promover a direta comunhão entre o devoto e Deus. – É através de Kabalá Prática, ou modalidade devocional, que se origina os muitos ritos e preces diárias que preenchem as páginas do Sidur – Conseguintemente atribui uma mui singular importância a Oração.
     Em sua modalidade especulativa ou Kabalá Teórica, por sua vez, se dedica de maneira especialíssima a “desenhar” e sublinhar os enlaces entre o Criador e o Universo.
     A doutrina do Misticismo – assinala Müller em sua “História do Misticismo Judaico” – se elabora em três direções: Teologia, psicológica e ética. No aspecto teológico se trata de especificar os seres intermediários entre Deus e o homem e ordená-los em hierarquias segundo os seus poderes criadores e outras qualidades. No aspecto psicológico se trata de ensinar ao homem como desenvolver sua faculdade intucional. No aspecto ético ensina como a comunhão com Deus pode aplicar-se na vida e na conduta do homem.
     O Canon Hebraico compreende a livros que se dividem em três grupos: Torá, Neviim e Ketuvim. Pode-se dizer que a Torá é informação, reflexão e mandamento. – Sob este aspecto, pode-se chamar Torá à totalidade dos livros que compõem o Tanakh – Prescreve um ritual que dirige a atenção do crente a um poder transcendente o qual considera como fonte de sua vida e seu guia. O relato Bíblico apresenta as distintas fases do outorga mento da Lei a Moisés como acompanhadas de Milagres que sugerem a idéia de uma conexão entre o mundo físico e um mundo supra-sensível.
     Quem indaga sobre a genealogia do misticismo judaico pode comprovar uma intenção mística no feito de que o Sumo Sacerdote, oficia como intermediário do Povo ante Deus e de Deus ante o Povo. A benção sacerdotal acompanha a pronúncia do Nome Divino, que tem como finalidade construir uma sorte de vínculos entre o devoto e Deus. – Este Sumo Sacerdote, porém, ocorre nas Sagradas Escrituras, antes e depois de ser personificado nos filhos de Levi, como uma entidade criadora adjunto ao Próprio Criador que de várias maneiras a personificou de várias formas, como explica Müller a seguir – A invocação do Nome de Deus não é a invocação de Deus, de Sua Essência Fundamental. As passagens do Tanakh que se referem ao ato de “chamar o Nome de Deus”, significa que somente o Nome de Deus é acessível ao chamado humano, e não “Sua Essência Fundamental”. Nos lugares considerados Sagrados reside o Nome de Deus, mas não Deus mesmo. E o Nome tem caráter Sagrado. Assim, o terceiro dos Dez Mandamentos ordena a não abusar do Nome de Deus. O Sacerdote expressa com suas bênçãos a intenção de que o Nome de Deus não se apague dos Filhos de Israel.
     No Tanakh se fala de mensageiros; a fora destes há outros termos, de índole mais abstrata, para designar substâncias intermediárias entre Deus e o Mundo. Müller observa que entre estes termos era proeminente o de Kavod, que designa”uma materialização primária da Essência Divina”. O termo Shekhiná, termo de importância no misticismo judaico, que não aparece no Tanakh; se aplica à Presença Divina no Mundo, particularmente a Presença de Sua Manifestação no Sinai. O termo Maqom; lugar, espaço, se emprega para indicar “a Presença Onipotente da Divindade”. Com caráter mais concreto, na História da Criação aparece “Espírito” ou “Alento” de Deus. No versículo 13 do Salmo 51 se fala do Espírito que penetra o Mundo e que Deus derrama sobre toda a carne, “Espírito de Santidade que obra na alma humana”. A expressão “o Rosto de Deus” significa também, direta ou indiretamente a Presença de Deus. Nos capítulos 8 e 9 de Provérbios, se personificam o conceito de Sabedoria. Em diferentes passagens Bíblicas se emprega a expressão “a Palavra de Deus”.
     Desde os mais remotos tempos bíblicos se interpretaram as palavras “e Deus disse que haja Luz” como indicando que a Palavra de Deus é um Poder Criador Real. Esta interpretação alcança seu pleno desenrolar em Filón de Alexandria, e suscitou a sentença inicial do Evangelho de João: “No Princípio foi o Verbo”. (João 1:1)
     Em um intento de um resumo da história do misticismo judaico havemos recordado nas páginas anteriores algumas expressões deste misticismo. Fora delas, se há de mencionar uma doutrina mística judaica no período Talmúdico. No Talmud se fala de certos ensinos místicos, se incluem legendas e referências a escolas, grupos ou indivíduos a quem se atribui tal doutrina. Em diversas passagens aparecem ensinamentos místicos nos quais aos místicos se lhes chama de “Conhecedores da Graça”. No Talmud se mencionam nomes possuidores de uma doutrina mística que são a verdadeira autoridade em matéria de Ritual.
    Dos livros que ocupam uma posição central na literatura Kabalista, destacam-se: o Livro do Zohar – o Livro do Esplendor – e, em escala menor; o Livro Bahir. O Livro Zohar deriva seu nome do terceiro versículo do capítulo 12 de Daniel. A palavra Zohar se encontra só uma vez mais no Tanakh, em Ezequiel 8:2. A sua vez, o adjetivo Bahir, que também designa certa classe de esplendor só se encontra em Jó 37:21. As duas obras foram atribuídas a mestres tanaitas dos séculos primeiro e segundo, é dizer, a mestres que participaram da criação da parte do Talmud que se chama Mishná. Guershon Sholem, em sua obra “As Orígens da Kabalá”, expressa que o Zohar é “uma compilação de fragmentos”.
     O Livro do Zohar está escrito em aramaico, peculiar da literatura mística. O Zohar foi primeiro dado a conhecer a fins do século treze pelo erudito kabalista Moisés de León como obra do rabino Bar Yochai.
     Acerca de Shimeon Bar Yochai, a figura principal do Zohar, há no Talmud e no Midrash umas frases que atestam sua auto-consciência mística, e que por sua vez, lhe foi rendido tributo à santidade de sua vida. No Zohar aparece Shimeon como o principal mestre e versado, com sete discípulos. As legendas sobre ele a as principais doutrinas que enunciam e formam o núcleo do Zohar, que enlaça assuntos da vida diária com as Esferas Celestiais.
     No Zohar os míticos são designados com nomescomo: “Mestres do ensinamento”, “Os que conhecem as medidas”, “Filhos da Fé”, “Os segadores do Campo”, “Os dignos da Verdade” ou “Sábios de Coração”. Mas também se os chama simplesmente Maskilim – Inteligentes (Daniel 12:3).
     Uma vez surgido, o Zohar foi prontamente mencionados e usado pelos escritores judeus contemporâneos, tais como; Salomon Ibn Adret, Todros Abuláfia e Menachem Ricanati, este último recorre freqüêntemente ao Zohar em seu comentário místico sobre o Pentateuco. Nas fontes mais antigas, o Zohar é chamado de “O Midrash de Rabi Shimeón Bar Yochai”, também o chama de “Que haja Luz” ou “O Grande Livro do Zohar”. O Zohar foi impresso pela primeira vez em 1558 em Cremona – Comuna Italiana da região da Lombardia – e quase ao mesmo tempo em Mantua – também na Itália. Posteriormente se fizeram outras edições, entre elas as de Dublin – na Irlanda, Amsterdam – na Holanda, Constantinopla – em Istambul, Vilna – na Lituânia e Berlim – na Alemanha.
     Á medida que os kabalistas reconheciam o Zohar como obra central da Kabalá, esta se foi “entrejeitando” cada vez mais estreitamente na vida religiosa do Judaísmo. A expulsão dos judeus da Espanha e de Portugal em fins do século XV deu lugar a uma nova fase em seu desenvolvimento. Os judeus saídos da Espanha e de Portugal se dirigiram em boa parte para o Oriente em, em especial para a Terra Santa.Alí, estudaram o Zohar com renovado zelo. No século XVI se constituiu na cidade de Safed um círculo de dirigentes kabalistas. A esse círculo pertenceu o rabino Yossef Karo, autor do Shulchan Arukh. Seu discípulo, o rabino Cordovero, desenpenhou um papel importante na compilação de documentos relacionados com a Kabalá antiga. Sua obra principal, que depois foi traduzida para o Latim,  foi o Pardes Rimonim (Jardim das Romãs), que contém uma exposição sistemática da doutrina kabalística segundo ela está exposta no Zohar.
     Rabi cordovero trabalhava em estreita solidariedade com seu cunhado Salomón Alkabetz, e como ele, pertenceu à comunidade ascética dos Chaverim (associados), comunidade para a qual compôs uma série de regras, dentre elas haviam as seguintes: se associar em termos amistosos com os companheiros, encontrar-se a cada dia com um dos associados a fim de discutir assuntos espirituais, fazer uma revisão de sua casa e comportamentos e se preparar para a recepção de Shabat HaMalká e confessar os pecados antes de cada refeição e antes de dormir.
     A figura dirigente do mencionado grupo foi Isaac Lúria, descendente de uma família alemã de eruditos; por isso que ele também era conhecido como o Ashkenazi (o alemão). Ele nasceu em 1534 em Jerusalém. Como ficou órfão de pai e mãe muito cedo, foi criado por um tio seu no Cairo. Por uma casualidade, quando já adulto, obteve da mão de um judeu-anussita um exemplar do Zohar. Quando se tornou rabino se estabeleceu em Safed, lá de pronto teve como discípulo a Chaim Vital.
     Entre os kabalistas de Safed, especialmente no círculo de Isaac Lúria, eram correntes uns usos e costumes especiais. Os membros de certos grupos, por exemplo, confessavam publicamente seus pecados uns aos outros em cada véspera de Shabat. A regular oração matinal era precedida por uma união devota com a alma de todo o Israel, dentre tantos outros costumes especiais.
     Todas estas práticas procuravam servir a um único fim; apressar a Vinda de Mashiach.
     Isaac Lúria desenvolvia uma atividade que tinha como objetivo recordar as atividades de um dado Profeta Antigo, esta atividade se achava confinada no círculo de seus discípulos. Todavia ainda em vida ele recebeu o nome de “Leão Santo”. Por esse nome foi subseqüentemente conhecido, e aos seus discípulos se os chamavam “filhotes do Leão”.
     Da Palestina os revisados ensinamentos kabalísticos foram transplantados por um grupo de homens à Europa. Esse grupo contava com a presença do judeu-anussita Yaacov Ben Chaim Zemach, que em 1619 chegou da Espanha à Palestina, donde reuniu os escritos de Chaim Vital.
     O Zohar não é um livro no sentido correto do vocábulo. Há toda uma literatura designada com o mesmo nome. A maior parte desta literatura é constituída de comentários à porções dos cinco livros do Pentateuco. Habitualmente as edições da obra só transcrevem uma parte do versículo a ser comentado, dando por certo que o leitor conhece o resto não transcrito. Na presente edição, toda vez que nos pareceu útil ao leitor se há transcrito o versículo completo. Traduzido ao Latim, ao Hebraico, ao Ídish, ao Francês, ao Inglês e ao Alemão, sua apresentação em cinco volumes é sugerida, em certo modo, pelo número dos livros da Torá. Guershom Sholem, o investigador de máxima autoridade no âmbito do misticismo judaico, é em geral, severo em seu juízo sobre as traduções do Zohar. Nós, os autores da presente tradução hão recorrido a distintas fontes. Por minha parte, tratei, dentro do possível, assegurar a uniformidade da escrita dos nomes próprios e a grafia de certos vocábulos. A fidelidade ao original foi controlada pelo Rabino Yaacov Ben Zaquen, de Caracas.
Zohar, Libro del esplendor, Editorial Sigal, Prólogo Simon Dujovne, Buenos Aires, Argentina, 1978. - Traduzido e vendido no Brasil pela Editora Sefer na alameda Barros São Paulo, Brasil.

     Após a leitura do presente prefácio do Zohar em Espanhol, não temos a menos dúvida de que o Sefer Zohar é uma obra de grande vulto e importância no Mundo Judaico. Saber disso é importante pelo fato de que boa parte das informações prestadas sobre o Guei-Hinom virá dele; o Sefer HaZohar – o Livro do Esplendor.

Quando foi criado o Guei-Hinom?

          Na Parashá do Zohar Bereshit, na página 110, encontraremos uma declaração do Rabino Isaac que certamente responderá a esta questão. Sua declaração diz:
“Rabi Isaac disse: No Segundo Dia foi criado o Guei-Hinom para os pecadores, no Segundo Dia também, foi criado o conflito. No segundo dia a Obra Começada não se concluiu e por isso, as palavras; “e era bom” não se empregam em ralação a ela. Só no Terceiro Dia foram concluídas as obras do Segundo Dia; daí que no relato do Terceiro Dia encontramos duas vezes a expressão: “que era bom”, uma com referência a sua própria obra e uma com referência à obra do Segundo Dia; foi eliminada da obra do Segundo Dia a Discórdia, e se extendeu a Misericórdia aos pecadores no Guei-Hinom, cujas chamas foram atemperadas. Daí que o Segundo Dia é abarcado e completado pelo Terceiro Dia.”
     Como está Escrito:

“E disse Deus: Haja Luz; e houve Luz. E viu Deus que era boa a Luz; e fez Deus separação entre a Luz e as Trevas. E Deus chamou à Luz Dia; e às Trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o Dia Primeiro.”

 “E disse Deus: Haja uma expansão no meio das Águas, e haja separação entre Águas e Águas. E fez Deus a Expansão, e fez separação entre as Águas que estavam debaixo da Expansão e as Águas que estavam sobre a Expansão; e assim foi. E chamou Deus à Expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o Dia Segundo.”

“E disse Deus: Ajuntem-se as Águas debaixo dos Céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi. E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das Águas chamou Mares; e viu Deus que era bom. E disse Deus: Produza a Terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi. E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. E foi a tarde e a manhã, o Dia Terceiro.”
(Bereshit - Gênesis 1:3-13)

     Ou seja: Segundo Rabi Isaac, o Eterno Viu que eram boas as coisas criadas no Primeiro Dia, Ele Viu que eram boas as coisas criadas no Terceiro Dia, porém, as coisas criadas no Segundo Dia Ele Viu que não eram boas, mas necessárias, como um remédio amargo. Ele Viu que não eram boas as coisas criadas no segundo Dia, porém, por serem necessárias à Correção do Mundo – Tiqun Olam – foram criadas. Dentre as coisas criadas no Segundo Dia se encontram; O Lugar do Abismo, Morada dos demônios, a Morte e a Discórdia, contudo, nenhuma destas criações neste Dia se sobrepôs à Criação do Guei-Hinom. Especialmente ao Guei-Hinom, Deus Olhou e Viu que não era bom, mas por causa da má inclinação dos homens, era necessário.
     Então, quando foi criado o Guei-Hinom? No Segundo dia da Criação do Mundo. E como o Guei-Hinom foi criado? Ele foi criado como um “Oco de uma ferida maligna no interior do Mundo” cuja função e destino é busca a Cura para que viva e não morra, é nosso dever e de todos os habitantes do Mundo buscar a cura para ele de uma “Ferida Mortal” e “Maldita” chamada de Guei-Hinom.
    Assim, resta-nos responder apenas mais algumas questões, e a próxima questão é: Como o Guei-Hinom veio a se chamar por esse nome?
     A resposta para esta pergunta obviamente a obteremos na 3° Parte desta matéria.

Shalom UL’Hitraot!!!