segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O Vale dos Filhos de Hinom 2° Parte

               O Vale dos Filhos de Hinom 2° Parte
                                       
     Na primeira parte desta matéria, nós “passeamos” por um panorama histórico geral sobre o conceito de Inferno patente mais ou menos de forma universal em nosso mundo. Descobrimos a origem deste conceito e cavamos suas raízes até nos encontrarmos exatamente no ponto de partida de tudo isso; o Tanakh, a Palavra de Deus. Nela encontramos que o nome original deste terrível lugar é na verdade Guei-Hinom, e no final da matéria algumas perguntas se fizeram necessárias e nós as registramos esperando respondê-las nas páginas que se seguiriam a 1° Parte.
     Pois bem, nesta segunda parte, procuraremos responder a primeira pergunta, que foi: Quando foi criado o Guei-Hinom?
     Porém, antes disso; leremos a transcrição do prefácio do Zohar – O Livro do Esplendor – no qual nos apoiaremos além das Sagradas Escrituras para esboçar de forma clara e concisa o conceito primeiro do Guei-Hinom.
     O Zohar que temos em mãos é o fruto de um imenso e abençoado trabalho realizado pela Comunidade Judaica Anussita da Argentina e publicado pela editora Sigal que gentilmente nos dispôs uma cópia em espanhol da qual traduzimos alguns trechos para fundamento de nosso aprendizado.
     Assim diz o prefácil:
     Como os misticismos de outras religiões, o misticismo judaico é uma atitude mental que traduz o empenho do crente por lograr e manter a comunhão com Deus. No Judaísmo Talmúdico, apesar de que se assinala expressões místicas em meio às suas páginas, a comunhão do devoto com Deus é uma conseqüência da observância dos preceitos. Em contra partida, no misticismo, a dita comunhão vem primeiro que os Mandamentos e, portanto, pode elevar o crente ao êxtase.
     O misticismo judaico se apresenta simultaneamente em duas modalidades: uma devocional ou prática, e uma intelectual ou especulativa. Na primeira, o misticismo acentua aqueles aspectos dos preceitos que servem para promover a direta comunhão entre o devoto e Deus. – É através de Kabalá Prática, ou modalidade devocional, que se origina os muitos ritos e preces diárias que preenchem as páginas do Sidur – Conseguintemente atribui uma mui singular importância a Oração.
     Em sua modalidade especulativa ou Kabalá Teórica, por sua vez, se dedica de maneira especialíssima a “desenhar” e sublinhar os enlaces entre o Criador e o Universo.
     A doutrina do Misticismo – assinala Müller em sua “História do Misticismo Judaico” – se elabora em três direções: Teologia, psicológica e ética. No aspecto teológico se trata de especificar os seres intermediários entre Deus e o homem e ordená-los em hierarquias segundo os seus poderes criadores e outras qualidades. No aspecto psicológico se trata de ensinar ao homem como desenvolver sua faculdade intucional. No aspecto ético ensina como a comunhão com Deus pode aplicar-se na vida e na conduta do homem.
     O Canon Hebraico compreende a livros que se dividem em três grupos: Torá, Neviim e Ketuvim. Pode-se dizer que a Torá é informação, reflexão e mandamento. – Sob este aspecto, pode-se chamar Torá à totalidade dos livros que compõem o Tanakh – Prescreve um ritual que dirige a atenção do crente a um poder transcendente o qual considera como fonte de sua vida e seu guia. O relato Bíblico apresenta as distintas fases do outorga mento da Lei a Moisés como acompanhadas de Milagres que sugerem a idéia de uma conexão entre o mundo físico e um mundo supra-sensível.
     Quem indaga sobre a genealogia do misticismo judaico pode comprovar uma intenção mística no feito de que o Sumo Sacerdote, oficia como intermediário do Povo ante Deus e de Deus ante o Povo. A benção sacerdotal acompanha a pronúncia do Nome Divino, que tem como finalidade construir uma sorte de vínculos entre o devoto e Deus. – Este Sumo Sacerdote, porém, ocorre nas Sagradas Escrituras, antes e depois de ser personificado nos filhos de Levi, como uma entidade criadora adjunto ao Próprio Criador que de várias maneiras a personificou de várias formas, como explica Müller a seguir – A invocação do Nome de Deus não é a invocação de Deus, de Sua Essência Fundamental. As passagens do Tanakh que se referem ao ato de “chamar o Nome de Deus”, significa que somente o Nome de Deus é acessível ao chamado humano, e não “Sua Essência Fundamental”. Nos lugares considerados Sagrados reside o Nome de Deus, mas não Deus mesmo. E o Nome tem caráter Sagrado. Assim, o terceiro dos Dez Mandamentos ordena a não abusar do Nome de Deus. O Sacerdote expressa com suas bênçãos a intenção de que o Nome de Deus não se apague dos Filhos de Israel.
     No Tanakh se fala de mensageiros; a fora destes há outros termos, de índole mais abstrata, para designar substâncias intermediárias entre Deus e o Mundo. Müller observa que entre estes termos era proeminente o de Kavod, que designa”uma materialização primária da Essência Divina”. O termo Shekhiná, termo de importância no misticismo judaico, que não aparece no Tanakh; se aplica à Presença Divina no Mundo, particularmente a Presença de Sua Manifestação no Sinai. O termo Maqom; lugar, espaço, se emprega para indicar “a Presença Onipotente da Divindade”. Com caráter mais concreto, na História da Criação aparece “Espírito” ou “Alento” de Deus. No versículo 13 do Salmo 51 se fala do Espírito que penetra o Mundo e que Deus derrama sobre toda a carne, “Espírito de Santidade que obra na alma humana”. A expressão “o Rosto de Deus” significa também, direta ou indiretamente a Presença de Deus. Nos capítulos 8 e 9 de Provérbios, se personificam o conceito de Sabedoria. Em diferentes passagens Bíblicas se emprega a expressão “a Palavra de Deus”.
     Desde os mais remotos tempos bíblicos se interpretaram as palavras “e Deus disse que haja Luz” como indicando que a Palavra de Deus é um Poder Criador Real. Esta interpretação alcança seu pleno desenrolar em Filón de Alexandria, e suscitou a sentença inicial do Evangelho de João: “No Princípio foi o Verbo”. (João 1:1)
     Em um intento de um resumo da história do misticismo judaico havemos recordado nas páginas anteriores algumas expressões deste misticismo. Fora delas, se há de mencionar uma doutrina mística judaica no período Talmúdico. No Talmud se fala de certos ensinos místicos, se incluem legendas e referências a escolas, grupos ou indivíduos a quem se atribui tal doutrina. Em diversas passagens aparecem ensinamentos místicos nos quais aos místicos se lhes chama de “Conhecedores da Graça”. No Talmud se mencionam nomes possuidores de uma doutrina mística que são a verdadeira autoridade em matéria de Ritual.
    Dos livros que ocupam uma posição central na literatura Kabalista, destacam-se: o Livro do Zohar – o Livro do Esplendor – e, em escala menor; o Livro Bahir. O Livro Zohar deriva seu nome do terceiro versículo do capítulo 12 de Daniel. A palavra Zohar se encontra só uma vez mais no Tanakh, em Ezequiel 8:2. A sua vez, o adjetivo Bahir, que também designa certa classe de esplendor só se encontra em Jó 37:21. As duas obras foram atribuídas a mestres tanaitas dos séculos primeiro e segundo, é dizer, a mestres que participaram da criação da parte do Talmud que se chama Mishná. Guershon Sholem, em sua obra “As Orígens da Kabalá”, expressa que o Zohar é “uma compilação de fragmentos”.
     O Livro do Zohar está escrito em aramaico, peculiar da literatura mística. O Zohar foi primeiro dado a conhecer a fins do século treze pelo erudito kabalista Moisés de León como obra do rabino Bar Yochai.
     Acerca de Shimeon Bar Yochai, a figura principal do Zohar, há no Talmud e no Midrash umas frases que atestam sua auto-consciência mística, e que por sua vez, lhe foi rendido tributo à santidade de sua vida. No Zohar aparece Shimeon como o principal mestre e versado, com sete discípulos. As legendas sobre ele a as principais doutrinas que enunciam e formam o núcleo do Zohar, que enlaça assuntos da vida diária com as Esferas Celestiais.
     No Zohar os míticos são designados com nomescomo: “Mestres do ensinamento”, “Os que conhecem as medidas”, “Filhos da Fé”, “Os segadores do Campo”, “Os dignos da Verdade” ou “Sábios de Coração”. Mas também se os chama simplesmente Maskilim – Inteligentes (Daniel 12:3).
     Uma vez surgido, o Zohar foi prontamente mencionados e usado pelos escritores judeus contemporâneos, tais como; Salomon Ibn Adret, Todros Abuláfia e Menachem Ricanati, este último recorre freqüêntemente ao Zohar em seu comentário místico sobre o Pentateuco. Nas fontes mais antigas, o Zohar é chamado de “O Midrash de Rabi Shimeón Bar Yochai”, também o chama de “Que haja Luz” ou “O Grande Livro do Zohar”. O Zohar foi impresso pela primeira vez em 1558 em Cremona – Comuna Italiana da região da Lombardia – e quase ao mesmo tempo em Mantua – também na Itália. Posteriormente se fizeram outras edições, entre elas as de Dublin – na Irlanda, Amsterdam – na Holanda, Constantinopla – em Istambul, Vilna – na Lituânia e Berlim – na Alemanha.
     Á medida que os kabalistas reconheciam o Zohar como obra central da Kabalá, esta se foi “entrejeitando” cada vez mais estreitamente na vida religiosa do Judaísmo. A expulsão dos judeus da Espanha e de Portugal em fins do século XV deu lugar a uma nova fase em seu desenvolvimento. Os judeus saídos da Espanha e de Portugal se dirigiram em boa parte para o Oriente em, em especial para a Terra Santa.Alí, estudaram o Zohar com renovado zelo. No século XVI se constituiu na cidade de Safed um círculo de dirigentes kabalistas. A esse círculo pertenceu o rabino Yossef Karo, autor do Shulchan Arukh. Seu discípulo, o rabino Cordovero, desenpenhou um papel importante na compilação de documentos relacionados com a Kabalá antiga. Sua obra principal, que depois foi traduzida para o Latim,  foi o Pardes Rimonim (Jardim das Romãs), que contém uma exposição sistemática da doutrina kabalística segundo ela está exposta no Zohar.
     Rabi cordovero trabalhava em estreita solidariedade com seu cunhado Salomón Alkabetz, e como ele, pertenceu à comunidade ascética dos Chaverim (associados), comunidade para a qual compôs uma série de regras, dentre elas haviam as seguintes: se associar em termos amistosos com os companheiros, encontrar-se a cada dia com um dos associados a fim de discutir assuntos espirituais, fazer uma revisão de sua casa e comportamentos e se preparar para a recepção de Shabat HaMalká e confessar os pecados antes de cada refeição e antes de dormir.
     A figura dirigente do mencionado grupo foi Isaac Lúria, descendente de uma família alemã de eruditos; por isso que ele também era conhecido como o Ashkenazi (o alemão). Ele nasceu em 1534 em Jerusalém. Como ficou órfão de pai e mãe muito cedo, foi criado por um tio seu no Cairo. Por uma casualidade, quando já adulto, obteve da mão de um judeu-anussita um exemplar do Zohar. Quando se tornou rabino se estabeleceu em Safed, lá de pronto teve como discípulo a Chaim Vital.
     Entre os kabalistas de Safed, especialmente no círculo de Isaac Lúria, eram correntes uns usos e costumes especiais. Os membros de certos grupos, por exemplo, confessavam publicamente seus pecados uns aos outros em cada véspera de Shabat. A regular oração matinal era precedida por uma união devota com a alma de todo o Israel, dentre tantos outros costumes especiais.
     Todas estas práticas procuravam servir a um único fim; apressar a Vinda de Mashiach.
     Isaac Lúria desenvolvia uma atividade que tinha como objetivo recordar as atividades de um dado Profeta Antigo, esta atividade se achava confinada no círculo de seus discípulos. Todavia ainda em vida ele recebeu o nome de “Leão Santo”. Por esse nome foi subseqüentemente conhecido, e aos seus discípulos se os chamavam “filhotes do Leão”.
     Da Palestina os revisados ensinamentos kabalísticos foram transplantados por um grupo de homens à Europa. Esse grupo contava com a presença do judeu-anussita Yaacov Ben Chaim Zemach, que em 1619 chegou da Espanha à Palestina, donde reuniu os escritos de Chaim Vital.
     O Zohar não é um livro no sentido correto do vocábulo. Há toda uma literatura designada com o mesmo nome. A maior parte desta literatura é constituída de comentários à porções dos cinco livros do Pentateuco. Habitualmente as edições da obra só transcrevem uma parte do versículo a ser comentado, dando por certo que o leitor conhece o resto não transcrito. Na presente edição, toda vez que nos pareceu útil ao leitor se há transcrito o versículo completo. Traduzido ao Latim, ao Hebraico, ao Ídish, ao Francês, ao Inglês e ao Alemão, sua apresentação em cinco volumes é sugerida, em certo modo, pelo número dos livros da Torá. Guershom Sholem, o investigador de máxima autoridade no âmbito do misticismo judaico, é em geral, severo em seu juízo sobre as traduções do Zohar. Nós, os autores da presente tradução hão recorrido a distintas fontes. Por minha parte, tratei, dentro do possível, assegurar a uniformidade da escrita dos nomes próprios e a grafia de certos vocábulos. A fidelidade ao original foi controlada pelo Rabino Yaacov Ben Zaquen, de Caracas.
Zohar, Libro del esplendor, Editorial Sigal, Prólogo Simon Dujovne, Buenos Aires, Argentina, 1978. - Traduzido e vendido no Brasil pela Editora Sefer na alameda Barros São Paulo, Brasil.

     Após a leitura do presente prefácio do Zohar em Espanhol, não temos a menos dúvida de que o Sefer Zohar é uma obra de grande vulto e importância no Mundo Judaico. Saber disso é importante pelo fato de que boa parte das informações prestadas sobre o Guei-Hinom virá dele; o Sefer HaZohar – o Livro do Esplendor.

Quando foi criado o Guei-Hinom?

          Na Parashá do Zohar Bereshit, na página 110, encontraremos uma declaração do Rabino Isaac que certamente responderá a esta questão. Sua declaração diz:
“Rabi Isaac disse: No Segundo Dia foi criado o Guei-Hinom para os pecadores, no Segundo Dia também, foi criado o conflito. No segundo dia a Obra Começada não se concluiu e por isso, as palavras; “e era bom” não se empregam em ralação a ela. Só no Terceiro Dia foram concluídas as obras do Segundo Dia; daí que no relato do Terceiro Dia encontramos duas vezes a expressão: “que era bom”, uma com referência a sua própria obra e uma com referência à obra do Segundo Dia; foi eliminada da obra do Segundo Dia a Discórdia, e se extendeu a Misericórdia aos pecadores no Guei-Hinom, cujas chamas foram atemperadas. Daí que o Segundo Dia é abarcado e completado pelo Terceiro Dia.”
     Como está Escrito:

“E disse Deus: Haja Luz; e houve Luz. E viu Deus que era boa a Luz; e fez Deus separação entre a Luz e as Trevas. E Deus chamou à Luz Dia; e às Trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o Dia Primeiro.”

 “E disse Deus: Haja uma expansão no meio das Águas, e haja separação entre Águas e Águas. E fez Deus a Expansão, e fez separação entre as Águas que estavam debaixo da Expansão e as Águas que estavam sobre a Expansão; e assim foi. E chamou Deus à Expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o Dia Segundo.”

“E disse Deus: Ajuntem-se as Águas debaixo dos Céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi. E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das Águas chamou Mares; e viu Deus que era bom. E disse Deus: Produza a Terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi. E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. E foi a tarde e a manhã, o Dia Terceiro.”
(Bereshit - Gênesis 1:3-13)

     Ou seja: Segundo Rabi Isaac, o Eterno Viu que eram boas as coisas criadas no Primeiro Dia, Ele Viu que eram boas as coisas criadas no Terceiro Dia, porém, as coisas criadas no Segundo Dia Ele Viu que não eram boas, mas necessárias, como um remédio amargo. Ele Viu que não eram boas as coisas criadas no segundo Dia, porém, por serem necessárias à Correção do Mundo – Tiqun Olam – foram criadas. Dentre as coisas criadas no Segundo Dia se encontram; O Lugar do Abismo, Morada dos demônios, a Morte e a Discórdia, contudo, nenhuma destas criações neste Dia se sobrepôs à Criação do Guei-Hinom. Especialmente ao Guei-Hinom, Deus Olhou e Viu que não era bom, mas por causa da má inclinação dos homens, era necessário.
     Então, quando foi criado o Guei-Hinom? No Segundo dia da Criação do Mundo. E como o Guei-Hinom foi criado? Ele foi criado como um “Oco de uma ferida maligna no interior do Mundo” cuja função e destino é busca a Cura para que viva e não morra, é nosso dever e de todos os habitantes do Mundo buscar a cura para ele de uma “Ferida Mortal” e “Maldita” chamada de Guei-Hinom.
    Assim, resta-nos responder apenas mais algumas questões, e a próxima questão é: Como o Guei-Hinom veio a se chamar por esse nome?
     A resposta para esta pergunta obviamente a obteremos na 3° Parte desta matéria.

Shalom UL’Hitraot!!!   

Um comentário:

  1. Shalom chaverim,preciso comprar o livro ZOHAR,editado em português,caso saiba amado,favor passar e-mail,site,tel etc,laila tov!

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