Descobrindo
a nossa própria essência
Parashá
Vayelekh (Deuteronômio 31)
O Talmud relata que antes de sua morte, Moshé
escreveu 13 rolos da Torá, um para manter na Arca Sagrada e os outros para serem
distribuídos a cada uma das 12 Tribos. Esta foi uma maneira engenhosa de
garantir a integridade do texto da Torá, para que todas as cópias futuras pudessem
ser verificadas com as originais Escritas por Moshé.
Curiosamente, esta Parashá menciona a última
das 613 Mitzivot: a obrigação de cada um escrever a sua própria cópia da Torá.
Embora tenha herdado uma, mesmo assim deveriam escrever uma cópia por conta
própria.
Os comentaristas explicam que hoje realizam
esta Mitzivá acumulando livros referentes ao estudo da Torá em uma biblioteca,
criando um ambiente propício ao estudo da Torá.
Mas existe uma mais profunda aqui. A Mitzivá
de escrever um Rolo da Torá em si significa internalizar a Torá. Criar uma
relação emocional com a Torá, para que os nossos pensamentos e ações venham a ser
sempre filtrados pelo prisma da Torá. A Torá sempre forneceu aos judeus informações
e orientações sobre tudo, de negócio a casamento, desde as tragédias às
celebrações, etc.
Rabino Emanuel Feldman escreve:
"Além
de qualquer razão racional, a Torá é uma ponte que liga ao misterioso Deus
judaico, através do qual eles podem interagir e se comunicar, e através do qual
Deus mantém Sua Aliança com o Seu Povo, a Aliança em mantê-los e protegê-los. Quando
estudamos Torá, não estamos estudando um texto abstrato e arcaico de um mundo
antigo. Estamos estudando a maneira que Deus quer que vivamos na Terra ... na
verdade estamos descobrindo a essência do judaísmo, que é o mesmo que dizer, a
essência de nós mesmos. "
Em Sukot, costumamos ler o Sefer Kohelet
(Eclesiastes), o que aparentemente parece à primeira vista uma contradição,
pois, das três festas da Peregrinação, Sukot é a mais alegre delas por excelência,
o Sefer Kohelet, porém, parece nos dizer que toda essa engenhosidade em
promover esta festa ou qualquer outra é vã!
A chave para descobrirmos o porquê os
nossos sábios determinaram a leitura de Kohelet em Sukot se encontra no final
do mesmo livro, que em português diz:
“De
tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e segue os Seus Mandamentos;
porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a
obra, a até tudo o que está encoberto, quer seja bom, que seja ruim.”
(Eclesiastes
12:13-14)
Segundo o texto em português, devemos
realizar a festa de Sukot, assim como as demais festas e cumprir com os
Mandamentos de Deus, porque Deus Mandou, isso nos diferenciaria dos demais
povos da terra, ou seja; há os homens que crêem em Deus segundo a orientação da
Torá e há os homens que não crêem em Deus segundo a orientação da Torá.
Portanto, a conclusão do texto em português é: “Apesar de parecer vã todas
essas coisas, deveis fazê-las pelo simples fato das mesmas terem sido Ordenadas
por Deus.”
O texto em hebraico, porém, nos traz uma
perspectiva diferente:
rwmv wytwum-taw ary Myhlah-ta
emvn lkh rbd Pwo
jpvmb aby Myhlah hvem-lk-ta
yk Mdah-lk hz-yk
er-Maw bwj-Ma Mlen-lk le
Sof Davar HaKol Nishma
Et-HaElohim Yerá VeEt-Mitzivotav Shemor, Ki Zê Kol HaAdam, Ki-Et-Kol Maasse
HaElohim Yavo BeMishpat Al Kol-Neelam Im-Tov VeIm-Ra
“A
conclusão de tudo o que ouvimos é: Ao Eterno temerás e aos Seus Mandamentos guardarás,
pois, isto é todo o homem, porque tudo que foi feito por Deus virá em Juízo,
mesmo sobre o que está encoberto, seja bom, ou seja ruim.”
As Escrituras Sagradas em sua língua
original nos traz um dado interessante quando em contraste com o texto em português.
O texto em português parece nos dizer que; “apesar
de ser vã a guarda dos Mandamentos, devemos guardá-los, pois, nos diferencia
dos homens que não crêem em Deus.” O texto em Hebraico, por outro lado, nos
diz diferente, ele nos diz que: “Guardar
os Mandamentos, é isto que é todo o homem.”
ary Myhlah-ta emvn lkh rbd Pwo
Mdah-lk hz-yk rwmv
wytwum-taw
“O
Fim de tudo o que foi ouvido é: A Deus temerás e aos Seus Mandamentos
guardarás, pois, isto é todo o homem.”
Enquanto o texto em português diz que
guardar aos Mandamentos é dever de todo o homem, o texto em Hebraico nos
informa que; guardar aos Mandamentos é isso que é todo o homem, em outras
palavras, não existe homem sem a guarda dos Mandamentos. Ou seja; sem a guarda
dos Mandamentos de Deus, os homens na verdade são como os animais,
espiritualmente não há distinção alguma, pois, guardar os Mandamentos de Deus
não é o dever de todo homem, na verdade são os Mandamentos de Deus que nos faz
diferentes dos animais, pois, os Mandamentos de Deus nos educa em relação aos
nossos impulsos naturais que na verdade não tem distinção alguma dos impulsos
dos animais.
Os cientistas acreditam que o que nos
distingue dos animais é a capacidade de raciocinar, se fosse apenas isso, os chimpanzés
de fato seriam uma espécie de “nossos ancestrais”, se fosse pela inteligência
que nós nos distinguiríamos dos animais, quanto mais inteligente fosse um
animal mais homem o animal se tornaria.
Kohelet nos ensina que o que nos distingue
dos animais, não é o nosso aspecto físico, pois, neste sentido, somos tão
animais como qualquer deles, não é na nossa capacidade de modificar o
meio-ambiente em que vivemos, pois, os cupins, as formigas e os castores fazem
o mesmo, não é porque somos capazes de vivermos em sociedade, pois, se fosse
assim, as abelhas seriam mais homens do que nós.
O que nos faz homens, distintos totalmente
dos animais é a guarda dos Mandamentos de Deus, é o Estudo da Torá. Dessa
forma, não existem os crentes em Deus e os homens descrentes, na verdade só existem
os homens e os animais cuja distinção será percebida pela guarda dos
Mandamentos de Deus, pois:
!Mdah-lk hz
Isto
é todo o homem!
Shalom UL’Hitraot!!!