O Vale dos Filhos de Hinom
1° Parte
Os Islâmicos ou muçulmanos também entendem que as religiões supra-citadas formam junto com eles as três maiores religiões monoteístas do mundo, mesmo com suas gritantes divergências teológicas, mas por necessidade vital do testemunho histórico das precedentes os muçulmanos se vêem obrigados a chamar também aos judeus e cristãos de “O Povo do Livro”.
Os primeiros cristãos por sua vez, por descenderem dos romanos, por milênios têm propagado um ódio gratuito à semelhança dos romanos pelos judeus, e apesar da necessidade do “testemunho das Escrituras Sagradas” a seu favor, ao invés de se sujeitarem à autoridade da Bíblia, na verdade, sujeitam a Bíblia à autoridade cristã, torcem os fatos, invertem os valores das Escrituras Sagradas e “transformam” todo o judeu piedoso em uma espécie de “cristão equivocado” e dessa maneira buscam usurpar o lugar próprio dos judeus nas Escrituras Sagradas e no Coração de Deus, forçam a História e torcem os fatos afirmando que Deus nos rejeitou a nós os filhos de Israel e elegeu aos cristãos como “Israel espiritual”. Chessed VeShalom! Isso nunca esteve tão longe da Verdade quanto e principalmente nos dias de hoje, onde todos são obrigados a testemunhar o Milagre do Moderno Estado de Israel, que em apenas sessenta e dois anos conseguiu se impor diante do mundo inteiro como um País de primeiro mundo. E mesmo sendo Israel um número tão pequeno se comparado aos seus vizinhos, os palestinos, e mesmo se comportando na maioria das vezes de forma contrária às Mitzivot, ainda assim, o Eterno, nosso Deus, bendito seja o Seu Nome, não nos abandonou, garantindo apesar de tudo, a nossa eternidade como Povo de Deus.
Bom, seja como for, estas três religiões representam mais da metade da população mundial, o que torna certas crenças em crenças mais ou menos universais.
Dentre este elenco das crenças universais há uma da qual procurarei tratar numa seqüência de matérias sobre o assunto; refiro-me à crença num Inferno.
A palavra Inferno vem do Latim Inferus que quer dizer: “lugares baixos”. Estes “lugares baixos” eram antes conhecidos pelos gregos como Hades e em um nível mais profundo como Tártaro. Ambos os “lugares baixos” foram concebidos pela imaginação dos poetas e filósofos gregos, cuja função seria a de manter aprisionados os pecadores condenados pelos deuses gregos, que em sua maior parte mais tarde se tornariam também deuses romanos.
A palavra Inferno aparece pela primeira vez nas bíblias católicas em português, antes disso, esta palavra era grafada como Infernus, uma corruptela da palavra Inferus a fim de substituir as palavras gregas que designa na cultura grega lugares igualmente baixos, ou seja; o Hades e o Tártaro. Hades e Tártaro foram as palavras utilizadas pelos gregos a fim de equivaler os vocábulos hebreus Sheol e Guei-Hinom.
As palavras Sheol e Guei-Hinom são palavras que designam as habitações dos mortos em dois níveis de compreensão distintos, e ambos tem sua origem no Tanakh (a Bíblia Hebraica).
Cabe aqui salientar de forma abreviada que; para o Sheol foram, vão e sempre irão todos os mortos indistintamente. Sheol nada mais é do que a palavra correspondente a sepultura em Português.
No Sidur, na página 26, encontraremos uma oração conhecido pelo nome de; A Oração de Rabi, que diz:
Yehi Ratzon MiL’Fanekha Adonai Elohai VeElohei Avotai SheTatzileni Haiom UV’Khol Yom MeAzei Panim UMeAzut Panim MeAdam Ra, MiYetzer Ra, UMeChaver Ra, UMiShakhen Ra, UMiPega Ra, MeAin HaRa, MiLashon HaRa MiMaleshinut MeEdut Shequer, MiShneat HaBeriot, MeAlilá, MiMitá, MeShuná, MeCholaim Raim, MiMiquerim Raim, Ben Berit UBen SheEino Berit UMediná Shel
Guei-Hinom.
“Que seja da Tua Vontade, ó Eterno, meu Deus e Deus de meus pais, que nos livres hoje e sempre; dos homens arrogantes e da arrogância, do homem mau (da mulher má) e da má inclinação; do mau amigo, do mau vizinho e da má ocorrência; do mau olhado, da má língua e da falsa acusação; do falso testemunho, do ódio humano, da calúnia, da morte desastrosa, das doenças incuráveis, dos acidentes fatais, de um julgamento severo e de um implacável acusador, seja ele israelita ou gentio; e também do castigo do Guei-Hinom (Inferno).”
Esta é sem dúvida uma magnífica prece.
Se observarmos atentamente na ordem dos pedidos que o Sábio suplicante dirige à Deus, constataremos sem dificuldade que o suplicante relacionou os pedidos de forma hierárquica; começando pelo o que ele considerou como sendo o pedido mais simples e terminando no pedido que ele – o suplicante – entendeu como sendo o pedido mais importante. Ou seja; apesar dele, o suplicante, desejar estar longe de todas estas coisas relacionadas em sua prece, o pedido mais importante, porém, ele expressa no final e quase que dizendo: “Senhor, gostaria que o Senhor me atendesse em todos estes pedidos, mas se assim eu não me achar merecedor, livra-me, todavia dos tormentos do Guei-Hinom.” O seu pedido se inicia citando um mau menor e na seqüência ele vai aumentando o grau de ofensas das quais deseja que Deus o livre, sua lista todavia, termina com um pedido de livramento do maior mau listado aqui, quando ele diz: “...livra-me do castigo do Guei-Hinom.”
O Guei-Hinom, que por causa do Novo Testamento ficou popularmente conhecido por Geena, palavra latinizada do Aramaico Guehena que vem do Hebraico Guei-Hinom, cuja tradução literal é: O Vale de Hinom, ou como mensionado nas literaturas rabínicas; O Vale dos Filhos de Hinom, designado pelas Escrituras Sagradas como um lugar terrível, e que por isso, deve ser a todo o custo evitado. Por mais estranho que pareça, a existência de tal lugar no Mundo se faz necessária, pois, este lugar tem um papel importante no Tiqun Olam - O Concerto do Mundo.
De acordo com a Torat-Elohim; o Guei-Hinom é um lugar tão terrivelmente amaldiçoado por Deus, que somente a simples menção deste nome deveria nos despertar em temos e tremor diante do altíssimo a fim de revermos a nossa conduta e comportamento diante de Deus e dos homens. Apenas um vislumbre, ainda que remoto, da possibilidade de uma estadia por lá, deveria ser terrivelmente atemorizante a ponto de fazer com que qualquer indivíduo retornasse do seu mau caminho.
Mas porque não conseguimos enxergar isso? Não conseguimos enxergar isso, da forma devida, não é porque o Guei-Hinom “perdeu sua validade”, de maneira nenhuma, antes isso é fruto do mau que domina principalmente nossa geração tapando os nossos olhos, nos impedindo de enxergar essa terrível realidade que aguarda a todos os transgressores da Lei de Deus. E é justamente por isso, que nunca o Guei-Hinom esteve tão cheio de almas atormentadas como em nossa geração, pois, as pessoas não temendo a Deus, não podem se desviar de seu mau caminho, por conseqüência disso, acabam por garantir para si próprios um “lugarzinho todo especial” nesse lugar execrável e terrível. Chessed VeShalom! E estes tais permanecerão por lá tanto tempo quanto for necessário.
Bom, mas quando foi criado o Guei-Hinom? Como foi criado o Guei-Hinom? Como ele veio a ser chamado por esse nome? Onde ele fica localizado? O que acontece lá? O que devo fazer para me livrar do Guei-Hinom?
Estas são na verdade, perguntas essenciais, suas respostas, porém, são tão extensas que certamente serão temas de sucessivas matérias que virão na seqüência.
Shalom UL’Hitraot!!!
Fontes bibliográficas:
• Wikipedia
• Sidur Completo – Editora Sefer